quarta-feira, 1 de março de 2017

Antigas profissões dos cebolas I - Vendedor de água na moringa

Poucas pessoas, dos dias atuais, conhece uma moringa. Um recipiente feito de barro, usado para guardar água para beber e que durante algum tempo foi usada para venda de água em locais públicos, tais como: campos de peladas, nos locais de canteiros de obras (principalmente de casas) em geral e mais especificamente nas feiras.

Pode parecer estranho, para os dias atuais, uma situação de pessoas, na maioria das vezes crianças, vendendo água de beber em um recipiente de barro. Mas, é bom lembrar que no passado, principalmente em Itabaiana, não existia a figura da “água encanada” (serviço de distribuição de água) e mesmo depois da implantação deste serviço, demorou um bom tempo para que a grande maioria dos habitantes se tornassem usuários do sistema.

Três motivos foram os responsáveis pela demora em abandonar as cisternas, moringas, potes, porrões (as pessoas pronunciavam “purrões”), etc. Primeiro, para ligar milhares de casas a rede se demora muito e a demora era ainda maior usando os equipamentos daquela época (os regos para se colocar os canos eram cavados com picaretas), segundo era o hábito de se usar água de cisternas e o terceiro foi de ordem política. Houve até assassinatos (prefeito e filho) do lado político contra implantação da rede e os do mesmo lado político demoraram muito a ligarem as casas à rede de oferta de água.

De onde vinha a água

Antes da implantação do sistema de distribuição de água, os moradores captavam a água da chuva em cisternas, porrões (na realidade é um pote grande), potes, moringas, filtros de água, etc. Tinhas as fontes com água de beber que eram isoladas (cercadas com arames farpados) para tentar impedir que as pessoas lavassem roupas ou mesmo tomassem banhos. A grande maioria dos tanques (lagoas) tinham a água barrentas (amareladas e com gosto de barro) ou mesmo com sabor de urina de gado !


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Modelo de porrão usado pelos ceboleiros
Esse era o modelo de pote mais comum na região de Itabaiana
O filtro era encontrado na grande maioria das residências

Na prática, somente os porrões e as cisternas eram utilizados como depósitos de água para tempos longos. Os potes eram usados para captar água da chuva ou mesmo servirem de recipiente de transporte dos tanques ou cisternas para encherem os porrões e depois ficarem eles próprios como depósitos. Os porrões nunca eram utilizados para captarem água da chuva. A água era captada nos potes e depois depositada nos porrões. No procedimento, para encher os porrões, a água era cuada (filtrada) com um pano fino. Tem de observar que a água da chamada primeira chuva nunca era utilizada e isso porque a primeira chuva era a responsável de lavar a sujeira que ficava acumulada, nos telhados, durante os tempos de estiagem.


O consumo atual

Nos primeiros anos a água ofertada, pela rede pública, era retirada da Ribeira e a empresa responsável era o Departamento Estadual de Saneamento e Obras (DESO). Com o crescimento da cidade, outras fontes de água foram sendo usadas para aumentar a oferta. Hoje praticamente todas as residências estão ligadas na rede d’água e apesar disso, as pessoas passaram a consumir “água mineral” devido à água ofertada não ser considerada de boa qualidade. Ironicamente, os antigos vendedores de água na moringa foram substituídos por vendedores de água em pequenos recipientes plásticos!

Certamente, os atuais consumidores de água mineral em garrafas não iriam consumir a água vendida em moringas. As atuais garrafas plásticas tem um serviço mais personalizado, mais higiênico e a água vendida na moringa era a água depositadas nas cisternas. Por ocasião da venda, geralmente as pessoas bebiam a água no copo oferecido pelo vendedor, ou seja, várias pessoas utilizavam o mesmo copo (eram de alumínio) para o consumo.

Textos relacionados:
Antigas profissões dos cebolas I - O Vendedor de água na moringa
Antigas profissões dos cebolas II - O Vendedor de água em latões
Antigas profissões dos cebolas III - O Vendedor de Cavaco Chinês
Antigas profissões dos cebolas IV - O Vendedor de Rolete de Cana
Antigas profissões dos cebolas V - O Vendedor ambulante de Arroz doce
Antigas profissões dos cebolas VI - O Vendedor ambulante de manuês
Antigas profissões dos cebolas VII - Vendedo o picolé da maravilha
Antigas profissões dos cebolas VIII - Vendendo o estranho Flau
Antigas profissões dos cebolas IX - O acendedor
Antigas profissões dos cebolas X - Os catadores de Lavagem
Antigas profissões dos cebolas XI - Os desentupidores de fossa
Antigas profissões dos cebolas XII - Os aprumadores de rua
Antigas profissões dos cebolas XIII - Os funileiros
Antigas profissões dos cebolas XIV - Os vendedores de produtos milagrosos
Antigas profissões dos cebolas XV - O Artesão de Gaiolas
Antigas profissões dos cebolas XVI - Os Pequenos Engraxates

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Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br

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