segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Branca, cheirosa e gostosa

casa-de-farinha.jpgDepois de uma caminhada, pelo comércio, me dirijo a um restaurante e como sei que esses restaurantes do sul (estava na capital São Paulo) nunca oferecem farinha nordestina, eu questiono o garçom: tem farinha nordestina? o garçom: temos da melhor do Brasil, veio direto da Bahia!

Tomei um susto, mas pedi que me trouxessem a dita farinha. Quando servida, a farinha era amarela e um pouco grossa! Questionei ao garçom: mas essa farinha não é de mandioca e se veio da Bahia deve ter sido de algum baiano bem esperto para vender farinha de terceira como se fosse a melhor farinha do mundo. Onde moro a farinha é branca, cheirosa e gostosa. O garçom ainda interpelou: não moço, eu garanto que essa farinha é de primeira e veio da Bahia. Eu fui logo respondendo: já vi que você não é nordestino e nunca comeu uma farinha de primeira. Vou repetir, de onde venho a farinha é branca branca, cheirosa e é gostosa. Como eu já tinha experimentado a dita farinha baiana, eu fui logo rebatendo: essa não é uma farinha de mandioca de primeira e está misturada com farinha de milho. Não precisa nem experimentar, basta cheirar que se percebe.


Durante o almoço o garçom e os colegas não mais me dirigiram a palavra, mas depois de finalizado a refeição, eles se aproximaram e perguntaram de onde eu era! Foi que falei que morava onde se produzia a melhor farinha de mandhioca (esse era o nome que se chamava quando eu era criança) do mundo, tinha plantação por toda a região. Na cidade onde nasci e cidades vizinhas, o que mais se vê é plantação de mandhioca e também tem casa de farinha espalhada por toda a região. Claro que estava falando da década de 60 e 70 do século passado e quando comentei que nasci e morava em Itabaiana, nenhum deles quis me questionar a minha explicação, apenas um dos presentes (era cliente), perguntou se eu voltava para trazer um pouco da farinha que estava falando, porque ele já tinha visitado Aracaju, experimentou uma farinha que disseram ser de Itabaiana e confirmou que era realmente era branquinha e cheirosa.


As casas de farinha eram invisíveis


Durante os meus estudos, do chamado primeiro e segundo grau, eram comuns os livros de Geografia e História afirmarem que não existiam indústrias na região agreste de Sergipe e só vim descobrir que isso era um preconceito contra os nordestinos quando fui estudar na Universidade (curso de Licenciatura Plena em Geografia pela UFS), onde os professores diziam que isso era proposital para passar a idéia que éramos muito atrasados e não tínhamos indústria e que as casa de farinha na realidade eram pequenas fábricas de farinha. Somente depois de adulto é que descobrir que o nome real das casas de farinha era Engenho de Farinha de Mandioca.

casa-farinha1.jpg


O legado da melhor farinha do mundo


Atualmente, a produção de mandhioca em Itabaiana é pequena, mas a qualidade ainda continua a mesma. Claro, para atender a demanda, o município tem de importar a matéria prima dos municípios vizinhos que coincidentemente herdaram o fabrico da mesma quando da separação da Grande Itabaiana e que hoje continuam a produzir a farinha branca, cheirosa e gostosa. Tanto é, que a farinha produzida nesses municípios é vendida como Farinha de Itabaiana.

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

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