sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O aeroporto dos cebolas

É um terreno baldio ao lado da pista (BR-235), bem em frente ao Posto da Polícia Rodoviária Federal. Era a resposta comum quando se perguntava onde ficava o aeroporto e achava estranho o fato de sempre passar pela pista, pelo menos uma vez por semana, em viagem para Aracaju, consequentemente passava sempre ao lado e nunca vi e nem ouvia alguém falar do dito aeroporto. Isso em decorrência da grande maioria da população não saber da existência e sequer era falado nas escolas!

A primeira vez que escutei que existia esse tal campo de aviação (pequeno aeroporto), em Itabaiana, fiquei curioso e como toda criança curiosa tem o hábito de fazer a prova da janela, fui comprovar in loco a existência do mesmo. Um grande terreno baldio com alguns pés de Jurubeba, tinha um pequeno campo de pelada (futebol soçaite), um pouco de lixo e ainda tinha muito terreno sem nenhuma vegetação.


Pouco tempo depois, de longe avistei sob o local, do referido aeroporto, uma arribação de urubus e questionei: arribação de urubus só acontece quando vem trovoada ou tem algum animal morto para ser devorado. Como não tem nenhum sinal de trovoada, colocaram algum animal morto no terreno. Foi a partir da colocação de animais mortos, junto com lixo, no dito aeroporto, que a finalidade de pouso que era para ser de aviões passou a ser somente de urubus! Fui conferir in loco e constatei que a colocação de lixo tinha aumentando substancialmente, os pés de Jurubeba cobriam toda superfície com ou sem lixo, o campo de pelada não mais existia, muitos animais mortos no local (a grande maioria cachorros) e em decorrência da colocação de animais mortos, uma quantidade imensa de urubus.

A lenda do primeiro pouso

Uma certa tarde, próximo ao anoitecer, quando tinha chegado do colégio, correu o boato que tinha pousado um avião em Itabaiana. Foi o suficiente para as pessoas se dirigirem ao local do pouso. Minha mãe, sabendo do boato, foi logo me segurando e dizendo que no outro dia pela manhã eu ia ver o avião.

Pela manhã, logo depois do café, sai em direção do aeroporto para ver o dito avião. Antes mesmo de chegar, ao Campo de Aviação, fui informado que o pouso tinha ocorrido no campo de pelada ao lado do Conjunto Velho. Chegando ao local não encontrei nenhum avião e muito menos movimentação para um fato tão importante. Para todo mundo que perguntava, sobre o avião, a informação é que tinha sido levado pela madruga. Sempre tinha o cuidado de perguntar, ao informante, se ele mesmo tinha visto o avião e acreditem: todos sabiam informar que o avião tinha pousado, batido com uma das asas no travessão (o gol) e que o mesmo tinha sido levado, mas nenhuma alma viva jurou ter visto o avião pessoalmente!

Verdadeiramente só podemos dizer que o primeiro pouso de avião em Itabaiana ficou por conta do helicóptero usado pelo então candidato ao senado Oviedo Teixeira. Todo período de eleição ele vinha com o dito helicóptero. A aeronave fazia um barulho infernal e ficava fácil localizar onde se realizava o pouso. As duas vezes que vi a aeronave pousando foi na Avenida Dr. Airton Teles, em frente onde hoje fica o Posto Esquina e uma outra aterrissagem ocorreu no que hoje é a Praça de Eventos.

O avião e o caixão de defunto

Outra lenda urbana que era contada e ainda hoje ouço de alguns colegas de infância foi a história que tinha morrido um conterrâneo em São Paulo. Segundo os relatos, a empresa preparou o translado e mandou que fosse entregue aos familiares em Itabaiana. A empresa responsável de fazer a entrega se dirigiu ao local do aeroporto e como não encontrou o aeroporto, o avião fez um vôo rasante e jogou o caixão do defunto sobre a vegetação (no local só tinha pés de jurubeba). Ainda hoje quando questiono se o caixão não ficou em pedaços fico sem respostas!

Imaginem, um avião monomotor para levantar vou tem de estar mais ou menos a 140 km/h, joga um caixão fúnebre de madeira fornida e o mesmo é amortecido por arbustos de jurubeba (nunca crescem acima de dois metros) se ficar em pedaços!

A queda do avião

Embora o aeroporto nunca tinha sido utilizado por nenhum avião, ele constava nas cartas geográficas (mapas) e se comenta muito que o avião que chegou a se chocar contra a Serra de Itabaiana estava à procura do aeroporto seguindo essas cartas. Como não encontrou, seguiu voo em direção ao aeroporto de Aracaju, como o tempo estava muito nublado escondendo a serra (a serra fica no meio do caminho entre um aeroporto e outro), aconteceu o primeiro acidente aéreo da Itabaiana sem de fato ter ocorrido alguma movimentação no aeroporto! Na realidade o avião não caiu e sim se chocou contra a serra.

Os diversos batismos

No início era somente um grande terreno baldio sem nenhum tipo de vegetação e não possuía uma única edificação, em um pequeno trecho era utilizado como campo de pelada de futebol soçaite, era chamado somente de Campo de Aviação e atualmente poucas pessoas se referem ao atual bairro usando este nome.

Com o decorrer do tempo passaram a jogar lixo, paralelamente nasceram muitos pés de jurubeba e com os pés de jurubeba se intensificou o uso do mesmo como lixeira. Lembrar que o surgimento dos pés de jurubeba facilitava as pessoas jogarem o lixo sem serem percebidas. Algum tempo depois, o terreno foi limpo e doado a várias pessoas para construírem moradias e para tentar desmoralizar as pessoas que ganharam lotes de terras, passaram a chamar pejorativamente o local de Lata Velha em decorrência as pessoas irem morar em local que antes era uma lixeira.

Com a implantação da torre de transmissão da primeira rádio em Itabaiana, bem ao lado do Campo de Aviação, ou “Lata Velha”, o bairro passou a ter outro apelido e passou a ser chamado de Bairro da Torre. Esses apelidos trouxeram problemas nas reivindicações junto ao líder político da cidade. O problema foi decorrente que o último nome de batismo do bairro (Miguel Teles de Mendonça) é o nome do pai do então líder político! (clique aqui)

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)


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