Na campanha política para as eleições municipais, de 1988, um taxista amigo, aqui de Itabaiana virou para o lado, para o partido que eu acompanhava e que ganhou naquele ano. Um dilema, porém, o perseguiu durante toda a campanha: "E se eu perder o 'alvaral'?" Dizia ele, num vício de linguagem com a palavra alvará, licenciamento usual para exercer a atividade de taxista. Pra variar, o alvará de táxis, é, mais um instrumento de aliciamento político partidário nas mãos dos prefeitos, ou de seus vereadores, ainda hoje Brasil afora.
Assim que a poeira assentou no início do primeiro governo Lula, e Lula não fez um montão de besteiras, como esperava até gente bem intencionada, eu comecei a imaginar os papos inquietantes em rodas chiques da elite, com “o governo do cara que não fala inglês” condição indispensável para ser presidente DO BRASIL, segundo Otavio Frias Filho, dono do jornal Folha de São Paulo e do Uol. Lula não só não fala inglês, como deu pra dar inodoras alfinetadas nos Estados Unidos, mas que para os vira-latas locais era uma heresia imperdoável. Uns, por reles puxa-saquismo mesmo; mas outros por medo de perderem “o alvaral”; ou seja, uns poucos green cards e uma montanha de vistos de entrada.
Como se há de ter um país com uma gente dessa - há 200 anos que é assim - e ainda mais no comando dele?
Este país é um milagre!
Por José de Almeida Bispo
Texto original: OBSERVANDO A ENGRENAGEM
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