segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

CAMINHÃO DE BRINQUEDO

Protótipo básico do meu caminhão
Durante toda minha infância fui visitado pelo Papai Noel somente uma única vez. E meu pai (o verdadeiro Papai Noel) e minha mãe resolveram me presentear com um carro de mão de madeira. Na realidade um ônibus de madeira!

Já naquela época, o orgulho dos moradores da cidade (Itabaiana-SE) era o grande número de caminhões existentes na cidade e como todo garoto da época queria ter um caminhão. Não sei por que motivo os meus pais resolveram me presentear com um ônibus!


Claro que não reclamei para os meus pais sobre o erro do meu desejo de ser presenteado com um ônibus, afinal de contas, no meu imaginário foi o Papel Noel quem me presenteou e não saberia como levar a reclamação adiante. Mas como todo bom garoto da época, resolvi o problema desmontado o ônibus e reconstruindo o brinquedo! Só que na forma de um caminhão, não qualquer caminhão e sim na forma de uma Scania.

A parte frontal do ônibus ficou praticamente intacta se tornando a cabine (boleia) e a parte traseira foram totalmente reconstruídas para se tornar a carroceria. Para isso foram necessários várias adaptações e adicionamentos de peças que não existiam no ônibus, tais como: mais rodas, pneus, faróis, molas, material para simular a carga, etc.

Todo o material para construção do novo brinquedo eu conseguir nos lixeiros da cidade!

As rodas, os pneus, os faróis eu conseguir no lixeiro em frente a minha casa. Existia um campo de peladas bem em frente a minha casa e bem ao lado desse campo as sapatarias próximas (de Zé de Seu Duca, de Tororoco e Geraldo Massagista) jogavam os restos de matérias primas.

As rodas extras foram feitas de pedaços de tábuas. Foram utilizados uma serra facas para o corte e nivelar a madeira. As rodas eram lixadas em qualquer calçada de cimento ou mesmo em algum poste de energia. Essas rodas eram forradas com sobras de borrachas que eram usadas nos solados dos sapatos e sandálias. Essas borrachas tinham a finalidade de dar uma aparência que as rodas tinham pneus, reduzia o atrito da madeira com o chão e reduzia o ruído.

As rodas eram pregadas nas laterais dos eixos, mas eram colocados pequenos botões de pressão nos furos do centro da roda e o prego passava pelo furo que existia no centro destes botões. Isso dava um tempo de vida maior às rodeiras (era o nome que a criançada chamava essas rodas de madeira). Sem esses botões, os buracos no centro das rodeiras cresciam rápidos e era necessário adquirir outra rodeira. Os botões aumentavam o tempo de vida das rodeiras e diminuía o tempo de vida dos pregos que seguravam essas rodeiras. Só que os pregos eram mais baratos, mais fáceis de conseguir e substituir.

Os faróis eram botões de metais inox usados nos efeitos de sandálias e casacas de couros masculinas. Para simular os ganchos onde amarrava as cordas, que seguravam as cargas, eram usadas brochas (pequenos pregos usados em sapatarias) pregadas nas laterais da carroceria e simulando as cordas eram usados pequenos pedaços de barbantes que os sapateiros usavam para costurar os solados dos sapatos e sandálias.

Para simular os feixes de mola eram usados pequenos pedaços de tiras de metal que eram facilmente conseguidos nos lixos das lojas que vendiam eletrodomésticos (usadas somente em grandes embrulhos como geladeiras). Hoje se usa tiras de nylon! Para simular a carga eram usadas dezenas de caixa de fósforos vazias ou cheias de fósforos queimados. A lona, para cobrir a carga, era pedaços panos caquis de pernas de calças (fardas velhas do colégio). 

As molas eram realmente molas! Conseguidas nas oficinas na parte oeste da cidade. As mais usadas eram as retiradas, de válvulas defeituosas, dos radiadores de carros.

A pintura foi conseguida com sobras de tintas nas casas que estavam sendo construídas na rua. No lado oposta onde eu morava estavam construindo várias casas e até a ocasião só existam casa somente do lado da Rua Hunaldo Cardoso (década de 70 do século XX). Claro que os pintores me deram as os restos de tintas reclamando da minha insistência em ficar com as sobras das tintas por ocasião do término do serviço.

Quem fazia o carro andar não era o motor (não existia a figura do motor) e sim o motorista, puxando um barbante que tinha duas pontas. Uma amarrada do lado direito e outra no lado esquerdo do eixo dianteiro. O barbante era passado entre a cabine e o para-choque dianteiro, entre os dois pedaço de madeira que faziam às vezes do chassis e se estendia por uma extensão suficiente para que o condutor (motorista) pudesse puxar o carro.

O barbante amarrado no eixo tinha a finalidade não somente para puxar o carro, mas também servia de volante para se efetuarem as curvas. O motorista tinha de puxar o barbante com a mão aberta e girando a mão para esquerda e direita para realizar a curva.


Para simular o som do motor do carro eram usadas contra porcas e um pequeno pedaço de raio de bicicleta. As contra porcas tinham ranhuras e eram pregadas na parte interna das rodas traseira, com o raio pregado no eixo apontado para a contra porca e quando a carro se movimentava a contra porca girando fazia o raio vibrar produzindo o som muito parecido com um motor.

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

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