Protótipo básico do meu caminhão |
Durante toda minha infância fui visitado pelo Papai Noel somente uma
única vez. E meu pai (o verdadeiro Papai Noel) e minha mãe resolveram me
presentear com um carro de mão de madeira. Na realidade um ônibus de madeira!
Já naquela época, o orgulho dos moradores da cidade (Itabaiana-SE) era o
grande número de caminhões existentes na cidade e como todo garoto da época
queria ter um caminhão. Não sei por que motivo os meus pais resolveram me
presentear com um ônibus!
Claro que não reclamei para os meus pais sobre o erro do meu desejo de
ser presenteado com um ônibus, afinal de contas, no meu imaginário foi o Papel
Noel quem me presenteou e não saberia como levar a reclamação adiante. Mas como
todo bom garoto da época, resolvi o problema desmontado o ônibus e
reconstruindo o brinquedo! Só que na forma de um caminhão, não qualquer
caminhão e sim na forma de uma Scania.
A parte frontal do ônibus ficou praticamente intacta se tornando a
cabine (boleia) e a parte traseira foram totalmente reconstruídas para se
tornar a carroceria. Para isso foram necessários várias adaptações e
adicionamentos de peças que não existiam no ônibus, tais como: mais rodas,
pneus, faróis, molas, material para simular a carga, etc.
Todo o material para construção do novo brinquedo eu conseguir nos
lixeiros da cidade!
As rodas, os pneus, os faróis eu conseguir no lixeiro em frente a minha
casa. Existia um campo de peladas bem em frente a minha casa e bem ao lado
desse campo as sapatarias próximas (de Zé de Seu Duca, de Tororoco e Geraldo
Massagista) jogavam os restos de matérias primas.
As rodas extras foram feitas de pedaços de tábuas. Foram utilizados uma
serra facas para o corte e nivelar a madeira. As rodas eram lixadas em qualquer
calçada de cimento ou mesmo em algum poste de energia. Essas rodas eram
forradas com sobras de borrachas que eram usadas nos solados dos sapatos e
sandálias. Essas borrachas tinham a finalidade de dar uma aparência que as
rodas tinham pneus, reduzia o atrito da madeira com o chão e reduzia o ruído.
As rodas eram pregadas nas laterais dos eixos, mas eram colocados
pequenos botões de pressão nos furos do centro da roda e o prego passava pelo
furo que existia no centro destes botões. Isso dava um tempo de vida maior às
rodeiras (era o nome que a criançada chamava essas rodas de madeira). Sem esses
botões, os buracos no centro das rodeiras cresciam rápidos e era necessário
adquirir outra rodeira. Os botões aumentavam o tempo de vida das rodeiras e
diminuía o tempo de vida dos pregos que seguravam essas rodeiras. Só que os
pregos eram mais baratos, mais fáceis de conseguir e substituir.
Os faróis eram botões de metais inox usados nos efeitos de sandálias e
casacas de couros masculinas. Para simular os ganchos onde amarrava as cordas,
que seguravam as cargas, eram usadas brochas (pequenos pregos usados em
sapatarias) pregadas nas laterais da carroceria e simulando as cordas eram
usados pequenos pedaços de barbantes que os sapateiros usavam para costurar os
solados dos sapatos e sandálias.
Para simular os feixes de mola eram usados pequenos pedaços de tiras de
metal que eram facilmente conseguidos nos lixos das lojas que vendiam
eletrodomésticos (usadas somente em grandes embrulhos como geladeiras). Hoje se
usa tiras de nylon! Para simular a carga eram usadas dezenas de caixa de
fósforos vazias ou cheias de fósforos queimados. A lona, para cobrir a carga,
era pedaços panos caquis de pernas de calças (fardas velhas do colégio).
As molas eram realmente molas! Conseguidas nas oficinas na parte oeste
da cidade. As mais usadas eram as retiradas, de válvulas defeituosas, dos
radiadores de carros.
A pintura foi conseguida com sobras de tintas nas casas que estavam
sendo construídas na rua. No lado oposta onde eu morava estavam construindo
várias casas e até a ocasião só existam casa somente do lado da Rua Hunaldo
Cardoso (década de 70 do século XX). Claro que os pintores me deram as os
restos de tintas reclamando da minha insistência em ficar com as sobras das tintas
por ocasião do término do serviço.
Quem fazia o carro andar não era o motor (não existia a figura do motor)
e sim o motorista, puxando um barbante que tinha duas pontas. Uma amarrada do
lado direito e outra no lado esquerdo do eixo dianteiro. O barbante era passado
entre a cabine e o para-choque dianteiro, entre os dois pedaço de madeira que
faziam às vezes do chassis e se estendia por uma extensão suficiente para que o
condutor (motorista) pudesse puxar o carro.
O barbante amarrado no eixo tinha a finalidade não somente para puxar o
carro, mas também servia de volante para se efetuarem as curvas. O motorista
tinha de puxar o barbante com a mão aberta e girando a mão para esquerda e
direita para realizar a curva.
Para simular o som do motor do carro eram usadas contra porcas e um
pequeno pedaço de raio de bicicleta. As contra porcas tinham ranhuras e eram
pregadas na parte interna das rodas traseira, com o raio pregado no eixo
apontado para a contra porca e quando a carro se movimentava a contra porca
girando fazia o raio vibrar produzindo o som muito parecido com um motor.
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