Antonio Samarone de Santana.
Na verdade, as profundas mudanças econômicas que estavam ocorrendo em Itabaiana, conforme apontamos nos dois artigos anteriores, permitiram o nascimento de uma nova liderança, Euclides Paes Mendonça, com um jeito diferente de fazer política, colocando o eleitor como uma mercadoria a ser disputada. Líder de ascensão rápida, quase apoteótica, favorecida pela chegada de Leandro Maciel ao poder Estadual.
A política se colocou como uma excelente aliada na guerra comercial emergente, na ocupação dos novos mercados, decorrentes da ligação rodoviária de Itabaiana com o resto do país. Euclides entrou na política para favorecer os seus negócios, melhorar a sua competitividade na guerra comercial, não é por acaso, que a frase principal de Euclides no discurso de posse na Prefeitura de Itabaiana, em sua primeira vitória eleitoral, foi: “agora quem passa contrabando sou eu”, refletindo suas principais motivações.
Em 1947, Euclides entrou na política e perdeu a eleição para Prefeito de Itabaiana para Jason Correia, apoiado por Manoel Teles; no pleito seguinte, em 1950, ele derrotou o próprio Manoel Teles, tornando-se Prefeito de Itabaiana. Nesse primeiro mandato ainda de baixo, pois o PSD governava o Estado. Em 1954 vem o apogeu, Euclides elegeu-se deputado estadual, o segundo mais votado do Estado, elegeu o Serapião Góis prefeito de Itabaiana, e a UDN chegou ao poder, através de Leandro Maciel. O crescimento do império político e econômico de Euclides disparou. Euclides estava de cima, como se dizia.
Em 1958, o já poderoso Euclides Mendonça voltou a prefeitura de Itabaiana, ganhando a eleição para um noviço na política, Dr. Pedro Garcia Moreno, o médico do povo. Aqui apareceu a primeira ameaça à hegemonia de Euclides na região do agreste central; seu irmão, Pedro Paes Mendonça que resolveu disputar o mandato de Deputado Estadual, e se elegeu pelo PSD; Euclides lançou José Sizino de Almeida para estadual e perdeu. Comentários que Sinhá, a esposa de Euclides, tenha votado no compadre e cunhado Pedro, circularam com ares de verdade.
A eleição de Pedro Paes Mendonça ascendeu uma discordância familiar, os dois eram empresários talentosos e ambicionavam expandir seus negócios. Pedro resolveu levantar a bandeira da autonomia da Moita Bonita, e ali estabelecer o seu Condado. A Moita era um pequeno arruado, bem menor que o Capunga, mas Pedro queria a Moita emancipada de Itabaiana. Como Deputado, começou a levantar essa bandeira. Euclides, Prefeito de Itabaiana, não gostava da proposta.
Em 1962, após 12 dominando a política de Itabaiana, 4 na oposição estadual e 8 com governos aliados da UDN (Leandro Maciel e Luiz Garcia), Euclides realizou o seu maior voo, elegeu-se Deputado Federal, elegeu o filho Deputado Estadual e José Sizino de Almeida Prefeito de Itabaiana, aparentemente, a trajetória estava apenas começando, já rico, poderoso, Deputado Federal; mas o destino pregou-lhe uma peça, a UDN perdeu o Governo do Estado, Seixas Dória é eleito pelo PSD.
Ao nível nacional o país vivia a ebulição das reformas de base, renuncia de Jânio, parlamentarismo, Jango, e desconheço qualquer posição de Euclides Paes Mendonça sobre qualquer coisa da grande política; em Sergipe, Seixas Dória prometia um governo de mudanças, também Euclides silenciava, suas preocupações centravam-se no domínio político de sua região e na expansão dos seus negócios. Minha tese, defendida ao longo deste ensaio, é que Euclides foi um grande empresário, e que usava a política apenas para fortalecer seus negócios. Na ocasião de sua morte, era o mais rico dos três irmãos famosos.
Como continuar sendo o Manda-Chuva do agreste se agora, com a eleição de um Governador do PSD, ele perdia o controle da polícia e do fisco? No quesito polícia, ele resolveu fortalecer a guarda municipal, e Itabaiana passou a ter duas policias uma da UDN e outra do PSD, isso não poderia dar certo, como não deu. Os adversários locais de Euclides começaram a criar asas. Manoel Teles voltou a ter os privilégios do fisco, Pedro, o irmão, se fortaleceu, viabilizando a emancipação da Moita Bonita, onde se tornou o seu primeiro prefeito. Tudo gerou muito atrito e muito foram os ódios acumulados.
É evidente, que o assassinato de um Coronel da Polícia, numa troca de tiros com a Guarda Municipal, foi um estopim para o que veria acontecer em seguida. Os principais inimigos políticos com relações envenenadas, inclusive o irmão, governo do Estado contra, policia militar ressentida com a morte de um Coronel, nessa conjuntura, os estudantes realizaram uma passeata reivindicando água, durante o evento, ocorrem desentendimentos entre Euclides e o filho, com os manifestantes, e os dois são assassinados, numa história contada e recontada por muitos.
Pouco depois do ocorrido, instalou-se uma ditadura no país, Seixas Dória foi cassado, Pedro Paes Mendonça aconselhado a ir embora, indo para Pernambuco, onde construiu a bem-sucedida rede de supermercado Bom Preço, Manoel Teles foi assassinado, como vingança pela morte de Euclides, os correligionários pessedistas envolvidos fugiram de Sergipe. Gentil Barbosa, sobrinho de Sinhá, comprou o armazém de Euclides em Itabaiana, e iniciou a construção da bem-sucedida rede G. Barbosa; e Mamede Paes Mendonça estabeleceu-se na Bahia, montando a famosa rede Paes Mendonça.
Acredito, que a história dos três irmãos famosos, os Paes Mendonça, Euclides (depois Gentil Barbosa), com a rede G. Barbosa; Pedro com a rede Bom Preço, em Pernambuco; Mamede, com a rede Paes Mendonça, na Bahia, constituíram-se num raro episódio da história econômica brasileira, de como três talentos empresariais saído de Serra do Machado, à época município de Itabaiana, (Ribeirópolis foi emancipado em 1936), nascidos uma sociedade agrícola tradicional, se constituem em três potências econômicas regionais; sendo que no caso de Euclides, teve uma correlação com a política pelo tempo de 13 anos.
Economicamente, Itabaiana consolidou-se como um grande polo de comercio em Sergipe, permanecendo forte em armazéns e supermercados, mesmo esses setores tendo passado por um processo de internacionalização, e pelo setor de transporte, tornando-se a capital dos caminhoneiros. A competência comercial da cidade e dos seus filhos é reconhecida. As coisas são mais baratas em Itabaiana do que nas fábricas, e tudo com nota fiscal. Exportamos ouro e castanha para o Brasil, sem ter nem cajueiros nem mina de ouro. Uma coisa é certa, continuamos produzindo a melhor farinha de mandioca do Brasil.
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