domingo, 24 de agosto de 2014

É ALÍ!


Acho que é ali... Estátua em memória
 de José Martí,  no bairro de El
Vedado, em Havana, Cuba
Quando criança era comum minha mãe se assustar com o meu desaparecimento. Como toda criança era normal ficar curioso e costumava explorar os arredores de onde morava. Como costumávamos mudar de endereço, pelo motivo de morarmos de aluguel, era comum o curioso sempre está sumindo de maneira repentina. 

Nesta época tudo era longe e como quem tem boca vai a Roma, eu sempre perguntava, aos adultos, onde ficava os lugares que tinha curiosidade de conhecer e a resposta era sempre: é ali!. 

No começo ia até o Povoado Lagamar ou mesmo até o outro lado da cidade (Povoado São Luiz). Achava muito distante, mas as pessoas sempre informavam que era logo, ali! 


Certa vez, os garotos da rua resolveram fazer uma pescaria, no Rio Jacarecica. Discutimos que era longe e onde muitos diziam que era perto! Pois bem, saímos, em caminha rápida, entrando pelo Beco Novo e ao chegar no povoado São Cristóvão (na época se chamava Sete Casas) perguntamos a um dos moradores onde ficava o dito rio: é ali! 

Quando já íamos ao final da curva da estrada na Fazenda Grande (ficava nos fundos da fazenda), vinha passando um senhor de bicicleta e mais uma vez a pergunta onde ficava o referido rio: sigam essa estrada e quando chegar em uma encruzilhada entre a esquerda. - Fica perto: é ali! 

Depois de uma longa caminha, finalmente chagamos. O ali teve um tempo de mais ou menos uma hora e meia. Um alí com um percurso de uma légua e meia, que equivalem a nove quilômetros!
No lugar, onde ocorreu a pescaria,  fica a atual Barragem do Rio Jacarecica , Itabaiana - SE
Durante a pescaria víamos muitos peixes nas lagoas, mas pegar o peixe que era bom, nada! Cercávamos os peixes com a rede e quando puxávamos nada de peixe. Eles sumiam entre as pedras e a lama. No final da pescaria pegamos alguns camarões (cinco quilos). Para a quantidade de pessoas envolvidas, na pescaria, era muito pouco. Mas valeu pela diversão e a caminha, até ali!

Começou a chover, estávamos cansados e com calor, começamos a comemorar, mas um senhor, que ia passando, nos alertou para ficarmos do lado do rio onde iríamos pegar o caminho de volta pra casa. Ele apontou em direção ao sertão e afirmou: quando chove no sertão (onde fica a nascente do rio) o rio enche de repente e pega as pessoas de surpresa e elas ficam sem poder atravessar! Não levamos em consideração o que o idoso falou e tivemos de atravessar o rio puxando uns aos outros. Como a correnteza ficava forte rapidamente, atravessamos o rio às pressas, mas ganhamos alguns arranhões nos solados dos pés pela teimosia em duvidar do idoso!

O retorno foi mais divertido. A estrada de onde fica o cruzamento até chegar a Fazenda Grande ficou um limo (escorregadia) depois de molhada! Os ciclistas iam empurrando as bicicletas, os carros passavam lentamente e os que estavam a pé se preocupavam em pisar onde tinha toiceira de mato, isso para evitar os escorregões. De qualquer maneira fui um dos que chegou em casa com os short sujo de lama. Em um desses escorregões não consegui me equilibrar e cai sentado! Alem da dor tive de agüentar as gozações.

Pouco tempo depois fui morar em Aracaju, na Rua Riachuelo, bem no fundo da Igreja do Salesiano. Para ir ao trabalho eu pegava o ônibus em frente ao Hospital de Cirurgia e no primeiro dia fui perguntando se era longe o centro da cidade, até o Edifício Maria Feliciana (Edifício Estado de Sergipe), e a resposta: rapaz é longe! Você pega o ônibus, ele vai até a rua da frente e você desce em frente ao Calçadão e depois segue o resto caminhando a pé!

Durante algum tempo utilizei o ônibus para ir ao trabalho, até que um dia resolvi voltar caminhando. Foi que descobrir que o percurso era de mais ou menos doze minutos de caminhada (mais ou menos um quilômetro)! Obtive a informação que era longe, mas era ali!

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

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