quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O PELEGO

Quando tinha dezesseis anos, morava no Conjunto General João Pereira (Itabaiana-SE). Nesta época, eu e minha mãe, vendíamos nas feiras(uma na quarta e outra no sábado). Eu costumava ir para a feira entre duas e três da manhã e raramente voltava para casa e ficava aguardando enquanto minha mãe chegava ao amanhecer.

Para ir a feira, eu sempre utilizava o caminho que passava pelo lado do Hospital Rodrigues Dórea (atualmente se chama Hospital Dr. Pedro Garcia Moreno) e passava por uma baixada e depois subia em direção a Rua do Fato (Rua Itaporanga). Nesta baixada tinha um riacho (na realidade um esgoto) e sobre o riacho tinha uma pinguela (um tronco de árvore atravessado que possibilitava a passagem sem pisar na água).

Em uma dessas viagem para feira, pela madruga, resolvi voltar mais cedo para casa. Quando cheguei no final da Rua do Fato, aproximando-se do dito riacho, eu avistei um vulto branco (do lado oposto do riacho) indo em direção a pinguela. No final desta rua, bem ao lado onde ia passando, tinha uma família carregando uma carroça e se preparando para ir vender na feira e eles também vendo o vulto branco me questionaram: vai ter coragem de passar?

Como não tinha jeito e o meu sono era maior que o medo, respondi: rapaz, não tem jeito, com o sono que estou eu dormiria aqui no meio da rua!

Como tinha o costume de andar a noite e as vezes fazia fachiada, aprendi que para saber se tem alguém vindo em sua direção em alguma estrada é só se abaixar, com a cabeça encostada no chão e olhar ao longo da mesma. Se existir alguém caminhando na estrada, você irá notar o vulto da pessoa se locomovendo. O problema é que esse artifício só funciona em estrada com terreno em linha reta. Não funcionou o meu artificio!

Continue caminhando em direção da pinguela e do outro lado o vulto se aproximava na mesma proporção! Quando eu estava a mais ou menos cinco metros, da pinguela, avistei do outro lado a uns cinco metros de distância, da mesma pinguela, um senhor de camisa de mangas compridas (era de um tipo muito comum utilizado para se trabalhar na roça), calça preta, botas de borracha, chapéu de vaqueiro e no braço um pelego branco (são feitos de pele de carneiro). Ufa, que alívio!

Quando fiquei mais próximo do senhor, eu o alertei do fato dele está no escuro, com roupas escuras, carregando um pelego branco e falei: rapaz, guarde esse negócio branco? Lá de longe só se avista um vulto branco pulando no escuro. Ele me respondeu: sabe que nem tinha percebido! No qual justifiquei: olhe as pessoas lá na rua? todas olhando para saber o que é e esperando para ver se eu tinha coragem de passar!

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br

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