É comum acidentes quando se trabalha produzindo fogos de artifícios, isso devido de ter de se trabalhar com pólvora, um produto altamente instável. E nesses trabalhos, com pólvora, é comum ocorrerem acidentes. Quando era criança,morava em Itabaiana(SE), presenciei a ocorrência de um desses acidentes.
Nesta época, em Itabaiana(SE), existiam três produtores dos chamados fogos de artifícios (as pessoas da região chamavam fogos de São João), pelo menos é o que tenho lembranças. Os produtores eram: o Sr. Valter, residia no povoado São Luiz bem próximo a igreja que emprestou o nome ao povoado; Sr. Josias Fogueteiro, que residia na Rua do Cacete Armado; e Sr. Carlos de Rosinha, que residia na Rua do Ouvidor. Todos eles mantinham a produção dentro das próprias residências e o maior produtor era Josias Fogueteiro.
Os três produtores eram conhecidos entre eles, costumavam trocar informações e orientações de como se trabalhar com segurança esses produtos. O Sr. Carlos de Rosinha sempre chamou a atenção dos outros dois em relação aos cuidados ao se trabalhar com pólvoras, mas sempre tinha negativas em relação às orientações de segurança.
O Sr. Valter costumava usar a esposa como mão de obra para o fabrico das chamadas chuvinhas. Essas chuvinhas para serem produzidas é necessário que se soque a pólvora em um canudo de papelão e isso requer um certo cuidado (altamente perigoso!). Mas, apesar das advertências, a falta dos cuidados preventivos levou a um acidente onde deixou sequelas pelo resto da vida, na esposa do Sr. Valter, devido às diversas queimaduras.
O segundo produtor, apesar das advertências (eu presenciei algumas) em relação de se trabalhar com explosivos (usado para produção de foguetes de varas, bombas e os famosos peido de velho), o mesmo nunca chegou a levar a sério a possibilidade da ocorrência de um acidente.
Infelizmente, o pior veio a acontecer! Uma certa noite, quando jogava baralho, em minha casa, jogo de burro (o único que sabia jogar na época) e era em torno de oito horas da noite, quando de repente se ouve um grande estrondo e as janelas da casa ficaram trepidando (vibrando) por alguns segundos. Meu pai que costumava assistir a hora do Brasil, sentado em uma cadeira de Balanço, se levantou assustado e foi logo falando: isso é uma explosão e deve ter sido na casa de Josias! Corremos para a porta da casa e olhando em direção ao campo de futebol (Estádio Presidente Médici), via-se no céu uma grande bola de fumaça.
Eu e alguns garotos, todos da vizinhança, saímos correndo para ver do que se tratava. Não deu outra, na casa do Sr. Josias! Aliás, não existia mais a casa, praticamente todo o quarteirão foi abaixo com a explosão de aproximadamente 15 quilos de dinamite que estavam guardados em uma lata!!!
Quando vi toda aquela destruição, fiquei assustado! Muitas pessoas conversando, outras gritando, muitas chorando e outras mexendo nos entulhos procurando por outras pessoas. A conversa maior era em relação ao garoto que tinha morrido no local. Infelizmente tive o desprazer de ver um senhor passar como o garoto nos braços, todo ensanguentado. Várias pessoas perderam as casas, móveis, todos os documentos e ocorreram dezenas de feridos. Nunca me esqueci tal acidente e a destruição provocada pelo mesmo!.
Algum tempo depois, mais ou menos um ano, em uma tarde de sábado, minha mãe, na feira, me manda ir para casa levar as compras. Neste sábado, estranhamente o dia começou a ficar escuro muito mais cedo do que estava acostumado a ver. Pois bem, peguei a sacola com a feira e la se foi eu para casa, saindo da feira, cruzei a esquina onde ficava a Loja do Sr. Frefi e entrando pela Rua das Flores. Ao mesmo tempo que o dia escurecia rápido, a temperatura também subiu. Nunca tinha visto o dia escurecer tão cedo!!!
Na metade do caminho para casa, já em frente a casa do Seu Crispim, o céu é iluminado por um relâmpago gigante, até aí não estranhei, só que depois do imenso relâmpago, veio um trovão que chegou a fazer as janelas das casas trepidar (vibrarem), igualmente a explosão no dia do acidente! Já tinha ouvido e visto relâmpagos antes, mas não com tanta intensidade!
Do susto que tomei, dei um pulo e fui parar dentro da casa do Seu Crispim! Eu fiquei na porta com o corpo para dentro da casa, olhando para rua para um lado e para o outro! Tinha uma moça na janela observando o que eu estava fazendo. A moça que estava na janela ficou impaciente e passou a perguntar, repetindo várias vezes, o que eu queira e eu sem responder, ainda assustado, continuava olhando a rua para um lado e para o outro. A moça gritou:mãe o que esse menino está fazendo aqui na porta? Quando uma voz gritou do fundo da casa: ele deve ficado com medo trovão!
Depois que a voz gritou, a garota impaciente ficou mais calma e passou a me explicar que tinha sido apenas um trovão, que eu questionei: e que trovão é esse que fez as janelas balançarem?
Mesmo duvidando das explicações, me pus de volta ao caminho da casa. Claro! Com um olho no céu e outro na terra!
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