Sempre achei impressionante as pessoas que ganham a vida mostrando um controle sobre as cobras (serpentes). Inicialmente, pensava que encantador de serpentes fosse coisa somente do mundo árabe, depois passei notar, vendo alguns filmes, que os indianos também praticam essa atividade. É bom lembrar, que essas ideias sobre pessoas encantando serpentes nos são ensinadas através de filmes no cinema e na tv.
Mas como o decorrer do tempo passei a notar que no Brasil, mais especificamente na minha terra natal, tínhamos nossos encantadores de serpentes No passado, quando ainda frequentava as feiras do interior, era comum vermos os chamados marreteiros se utilizando de serpentes para venderem seus produtos. Tudo bem que os encantadores de serpentes que víamos no cinema e na TV ganhavam a vida encantando as serpentes fazendo com que elas ficassem dançando e com isso as pessoas sempre pagavam com alguma quantia pelo espetáculo. Já no nosso querido Brasil, as serpentes era apenas um meio de atrair a atenção das pessoas para vender algum produto e o produto mais vendido usando serpentes era a famosa Diogenina em Pó.
Todos os vendedores que usavam serpentes usavam na grande maioria das vezes um microfone amarrado ao peito e o som era reproduzidos nos altos falantes de ferro. Eles começavam as apresentações usando cobras (geralmente jiboias), depois passavam a jogar os produtos que estavam à venda nas mãos dos espectadores e assim conseguiam vendê-los.
O encantador dos encantadores
A vida sempre nos surpreende mostrando sempre coisas impressionantes. Nas feiras aos sábados eu costumava ir almoçar em casa e tirar uma pestana (dormir). Em um certo sábado, quando estava no melhor do sono, os colegas da rua (eram todos garotos) batem a porta me chamando para ver o encantador de cobras.
Nesta época eu morava, em Itabaiana, nas esquina da rua Padre Felismino com Rua Dr. Hunaldo Cardoso (atual Rua Zéca Mesquita), mas o encantador de cobras estava dando o espetáculo na esquina da Rua Dr. Hunaldo Cardoso com Rua Miguel Teixeira.
De longe se avistava mais ou menos uma centena de pessoas que assistiam deslumbrados ao espetáculo.
Quando cheguei à cena do espetáculo, achei estranho o fato do encantador de cobras não está vendendo nenhum produto. Um negro com mais ou menos um metro e oitenta de altura, com uma mala que estava no chão, jogada lado e denunciava que não era morador da região. Ele fazia gestos para uma cobra com mais ou menos um metro e meio de comprimento, estava enrolada e sobre o rolo da mesma ficava com um palmo erguida e apontando a cabeça para o encantador. O encantador falava coisa que na maioria das vezes eu não entendia nada, ficava circulando ao redor da cobra, quando ele batia no chão ou batia palmas a cobra levantava a cabeça e olhava na direção do mesmo. Todos deslumbrados e encantados com a facilidade com que ele controlava a Papa Pinto (uma cobra verde de papo amarelo). A cobra ele capturou no tanque que ficava ao lado do cruzamento das ruas quando a mesma estava tentando capturar um caçote (uma espécie de sapo muito parecido com a gia).
Depois de alguns minutos, o encantador se dirigiu ao meio fio da calçada, pegou uma garrafa cheia do que parecia água (do tipo que passarinho não bebe), deu uma boa golada, depois segurou a serpente pelo pescoço e obrigou a mesma a beber bendita água (ou maldita), ou seja, o cara não era um encantador de serpente!
O sujeito tinha bebido água suficiente para ficar um pouco fora de si e na embriaguês capturou uma serpente venenosa, dividiu a sede com a mesma e depois fez um espetáculo como se tivesse fazendo a cobra obedecer aos gestos deles. Acredito que a cobra quando ouvia ele bater no chão ou bater palmas olhava em direção do encantador, mas não reagia devido está afogada e certamente os reflexos estavam limitados.
O encantador não era um encantador de serpentes, mas encantou uma plateia com mais ou menos cem pessoas, compostas de adultos e em sua maioria crianças, apenas embriagando uma serpente!
Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)www.carlosgeografia.com.br
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