terça-feira, 29 de outubro de 2013

OS PENETRAS INVISÍVEIS

Noite de sábado, um grupos de mais ou menos 20 jovens em frente a Cine Santo Antônio (Itabaiana-SE). Mas não estavam esperando o início do filme, na realidade estavam todos sem dinheiro. O normal era todos irem para a praça principal da cidade (Praça Fausto Cardoso) onde ficam as garotas quando do término da missa.

Se reuniram todos na praça, em frente ao cinema, discutindo como iam e quem tinha dinheiro para a cervejinha do final de semana (nessa época ainda não se falava em 0800). Conversa vai e conversa vem, é quando aparece Jorge Black. Todo espirituosos, cheio de gíria, sempre confiante em resolver a coisas de maneira simples e chegou logo falando: e aí pessoal, sei que vocês todos estão aqui conversando de como tomar uma cervejinha, só que tá todo mundo quebrado (sem dinheiro), mas eu tive uma ideia: tem uma festa de aniversário de quinze anos, a gente até que podia aproveitar a falta de grana e dá uma chegadinha até lá?

Discussão em alta enter os prós, os contra e o Jorge Black, com o palavreado de sempre, conseguiu mais sete postulante para ir a festa!.

A casa, residência da festa, tinha um corredor que ligava a frente da casa, ficava na Praça João Pessoa, ao quintal. Neste quintal tinha uma piscina bem ao centro. Para se chegar até a piscina, por dentro da casa, tinha uma porta central, na cozinha, onde ia dar nos fundos da casa. No outro lado oposto da piscina tinha uma garagem que atravessando ia sair em outra rua (Rua sete de setembro), ou seja, a casa ia de uma rua a outra!!!.

Pois bem, chegamos em frente a casa, corredor vazio, ninguém entrando ou saindo, todos os convidados já tinham chegado, se acomodados e lá se vai os oito aventureiros (penetras) entrando pelo corredor. O problema é que não sabíamos que no meio do caminho tinha uma porta!!! E foi justamente, quando íamos passando, por essa porta que a dona da casa apareceu de repente!! Todos os aventureiros, coordenadamente, fizeram um meia volta vou ver! Mas a dona da casa, educadamente e gentilmente, por incrível que pareça, nos recebeu assim: que isso! podem entrar, não tem nenhum problema. A casa é de vocês.

O problema é que os três primeiros (Jorge Black, Valdileno e eu, nessa ordem) já estavam bem de frente a porta, no meio do caminho, e de frente a dona da casa! Não tinha mais como esconder que estava a entrar sem ser convidado e foram justamente esses três que tiveram que aceitar desavergonhosamente o convite de última hora! Os outros cinco fizeram que nada escutaram e saíram de fininho!

Resolvido o impasse do flagrante, continuamos nossa aventura. Quando chegamos no quintal, local da festa propriamente dita, todos os convidados estavam sentados em mesas, estrategicamente colocadas ao redor da piscina, deixando uma espécie de corredor entre as mesas e a piscina.

Estranhamente nenhum dos convidados nos viu, nenhum deles nos dirigiu a palavra.Embora todos nos conheciam e todos sabiam que estávamos ali com convites de última hora. Nem os garços fizeram qualquer movimento que identificasse nossa presença (éramos praticamente invisíveis). Foi que cochichamos e combinamos: vamos dar a volta na piscina como se nada tivesse acontecendo e vamos sair de fininho? E lá fomos nós!!

O problema é que entre a porta de saída da casa, ao lado oposto da porta que dava acesso ao corredor, era justamente onde o conjunto musical estava postado e justamente quando nos dirigíamos a saída, os músicos começaram a tocar!!! E agora? De novo, novos cochichos e nova estratégia para sair invisível (sem ser notado): vamos voltar pelo mesmo caminho como se não nada tivesse acontecido, ninguém vai nos ver mesmo! Só que alguns convidados começaram a dançar no corredor, entre as mesas e a piscina. Então tivermos de fazer o trajeto se afastando da piscina e se aproximando da porta da garagem.

Tudo corria conforme o planejado, mas quando já estávamos na metade do percurso, bem de frente a porta da garagem, de repente, alguém segura o meu braço, o de Jorge e deixa Valdileno no meio sem poder se mover e o sujeito grita: ATÉ QUE ENFIM! GENTE QUE NEM EU! Todos os convidados olharam para o ocorrido. Nós já estávamos conseguindo sair, como os seres invisíveis, e ocorreu essa surpresa!! Olhei para o lado, Tonho, era meu vizinho de vendas na feira (vendia roupas). Pra tentar minimizar o ocorrido, cheguei no ouvido de tonho e falei: toooooonho, que iiiisso? Nos estamos saindo de fininho e não fomos convidados. Foi pior, foi aí que o Tonho gritou mais alto ainda: QUEM DISSE QUE VOCÊS NÃO FORAM CONVIDADOS? EU CONVIDEI ! Como o trio invisível, ou quase, não se deu por satisfeito, questionamos bem baixinho: oh, você é o dono ... da festa? Que de supetão, ele respondeu: não, mas sou o irmão do dono da casa e vocês são meus convidados, como vocês são os únicos aqui que tenho amizade, são meus convidados e vão ficar no melhor lugar da festa. Nos puxou, pelo braço, para a garagem, lá estavam vários toneis cheios de cerveja e todas condicionadas com gelo e pó de serra. No fundo da garagem vários fornos com churrasqueiros trabalhando.

Quando conseguimos respirar e aliviar do susto, já tomando uma loira bem gelada, eu questionei de novo: você é o irmão do dono da festa, mas o dono da festa é rico e tu vende(s) roupa, comigo, lá na feira? Ele respondeu: sou o primo pobre (irmão) da família e pobre quando vai para festa de irmão rico, só vai para dar uma de garçom!

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br

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