Desde criança sempre ouvir essas histórias de alma penada. Alma penada ou visagem é a mesma coisa que fantasma, só que aqui no Nordeste não se chama fantasma e sim Visagens Na cidade onde nasci, se chamava alma penada. O que eu já ouvir de histórias de visagens (alma penada) já perdi a conta. Só que as histórias de visagens que me contavam, quando ainda era criança, elas sempre eram vistas a noite, em lugares escuros e geralmente próximos as Santas Cruz ou cemitérios.
Mas quando cheguei na adolescência, as visagens começaram a ficar mais ousadas e passaram a aparecerem durante o dia! É claro que algumas visagens aconteciam por acidentes e também devido ao medo já plantado na minha imaginação e na imaginação das pessoas que ouviam essas histórias desde criança.
Mas vou contar os ‘causos’ que vi acontecer de dia em ordem cronológica inversa.
Como a aula começava às 13:00h e tinha de sair de casa 12:15. Só que um dia atrasei e sair faltando vinte minutos paras 13:00h. Foi que resolvi cortar caminho por trás do cemitério.
Quando ia passando, notei que uma coisa branca aparecia e imediatamente desaparecia por detrás do muro, pela parte de dentro. Foi que pensei, já tem um engraçadinho fazendo presepada. Peguei uma pedra e imaginei, esse vai aprender a não fazer medo a ninguém, só que pensei, mesmo que eu acerte a pedra a pessoa corre e eu não vou saber quem é. Em vez de jogar a pedra, subi pelos buracos existentes no muro, para ver quem estava fazendo a pegadinha.
Qual a minha surpresa! Na realidade era o coveiro trabalhando. Como ele tinha esquecido o chapéu em casa e o sol estava bastante quente, ele pegou o lenço, que por sinal era branco, e amarrou sobre a cabeça para suportar melhor o calor. Só que ao ficar limpando o terreno com a enxada, a cabeça dele ficava aparecendo e desaparecendo em sequência por cima do muro. Foi que alertei o mesmo sobre o fato e ele corria o risco de sofrer um acidente, por que as pessoas iriam imaginar que alguém querendo pregar algum susto..
2º causo: O fantasma que flutuava na horizontal. Esse caso, proposital, também aconteceu ao meio dia e mais uma vez, atrasado resolvi cortar caminho por detrás do cemitério. Quando fui me aproximando da curva que dava acesso ao cemitério, dei de encontros com algumas pessoas se benzendo, rezando Ave Maria e me apontaram em direção do cemitério. E foi que notei um fantasma que flutuava na horizontal. Era um fantasma, tamanho família, que flutuava e se comportava como se estivesse pulando. Foi que exclamei: agora dá de tudo, as visagens resolveram aparecerem ao meio dia e essa é mais interessante, flutua na horizontal e pula! Foi que uma mulher me questionou se eu ia passar pelo fundo do cemitério pra não chegar atrasado ao colégio? Foi que respondi: Dona Maria, já estou acostumado de vê tanto lençol flutuando no fundo do cemitério! Tudo bem que esse é diferente, flutua na horizontal. Mas resolvi passar e quando fui me aproximando, o fantasma me conheceu pelo nome e me perguntou: fio de Carlos, não tem ninguém armado ali naquele meio não, tem? Foi que dei a notícia ruim: rapaz, vi alguns ‘caras’ com espingardas e de cartucho. Foi que ele respondeu: então é melhor a gente cair fora. Embora eles não tiraram o lençol pra eu ver quem eram, deu pra notar que eram três pessoas, duas bem mais altas que eu e um pouco mais baixo, com um lençol sobre a cabeça dos três. Eles se meteram por dentro do mato (o fundo do cemitério estava cheio de pés de Jurubeba) e percebi que eles estavam pulando o muro pra dentro do cemitério. Como eu estava doido pra saber quem eram as ‘almas penadas’, sair correndo pra frente do cemitério e vi quando saíram três sujeitos e só um eu conhecia, ele vendia verduras na feira. Quando passei pela feira indaguei: fazendo frio ao meio dia e usando lençol, né? Foi que ele indagou: pelo amor de Deus você tá querendo que morra ‘muleque’?
3º causo: O Estudante. Este episódio, também proposital, aconteceu quando retornava do colégio, onde resolvi cortar caminho de volta pra casa. E acompanhado de mais alguns colegas que moravam em sítios (Zona Rural), passando ao lado do cemitério (nesta época ainda era sítios), apareceu um vulto branco e fazendo sussurro. Levantava-se e fazia sussurro e depois sumia nas folhagens por detrás de um pequeno morro de areia. Na realidade ele ficava em pé e depois se agachava dentro das folhas dos pés de jurubeba. Foi que começou a juntar uma pequena aglomeração de pessoas que estavam de volta para casa. Aí começou aquela história que o mundo estava pra se acabar e algumas mulheres rezando. Quando me aproximei com esses meus colegas e vi o que estava acontecendo, fui logo indagando: por que não colocava o suplicante pra correr? Foram logo me respondendo: você tá maluco, com assombração não se brinca! Foi que respondi: mais, aqui sempre está aparecendo dessas assombrações e o pessoal aqui da redondeza já está pra lá de cansado de colocarem elas pra correrem! Foi que um dos integrantes do grupo, deixa comigo, vou ‘arrudiar’ (dar a volta) e vou pegar o engraçadinho de surpresa. Só que a pessoa levou uma espingarda e só escutamos o tiro! A suposta alma penada saiu gritando e falando: porra está queimando pra burro. Era um dos meus colegas do colégio, que sabendo do nosso caminho de retorno para casa, foi aprontar e acabou levando a pior. Ainda bem que atiraram no trazeiro (nádegas) e não pra acertar na cabeça! De qualquer maneira ele foi parar no hospital local e a enfermeira disse que retirou dezoito bolas de chumbo! Isso quer dizer que o tiro não acertou de cheio, já que um cartucho tem muito mais que dezoito bolas de chumbo.
Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br
Esse texto também foi publicado no grupo ITABAIANA GRANDE
Esse texto foi inicialmente produzido e contado como causo na Rádio Cultura Online Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário