terça-feira, 23 de julho de 2019

A CARTA !

Quando era garoto, uma das coisas usadas para saber se o aluno estava sabendo ler e escrever era mandar ele escrever cartas e isso quando ainda estava estudando a chamada quarta série do primário. Lembro que era o orgulho dos pais terem filhos onde já sabiam escrever cartas !
Nesta época existiam o Ensino Primário e o Ginasial e para entrar na modalidade de Ensino Ginasial era obrigatório se fazer um Concurso de Admissão, que era uma espécie de vestibular.

Depois de ser aprovado neste tal de Concurso de Admissão, eu estudei o Ensino Ginasial e depois cursei o Ensino Médio. Neste período foi extinto o Concurso de Admissão, mas para entrar na universidade era necessário se fazer o Concurso Vestibular e na segunda tentativa consegui passar no vestibular.

Mesmo tendo cursando a universidade era muito raro alguém me solicitar para que eu escrevesse cartas, até por que o ambiente em que eu morava, a grande maioria dos vizinhos já tinha filhos estudando e sabiam escrever cartas. Nesse meio tempo, apareceu uma vizinha que veio retornando do Estado de São Paulo morar muito próximo e que era amiga de infância da minha mãe. Como ela costumava enviar cartas para os parentes que ficaram em São Paulo, e ele não sabia escrever, ela sempre solicitava que alguém escrever as cartas e fui o primeiro escolhido para escrever as famosas cartas. Só que eu fui reprovado logo na primeira carta, por que segundo a amiga da minha mãe, eu não sabia escrever cartas.

Para me substituir foi escolhida uma sobrinha da vizinha e eu achei estranho já que a sobrinha ainda não tinha sequer terminado o primário. Para matar a minha curiosidade, eu solicitei a minha mãe para ler a magnífica carta escrita, pela sobrinha da vizinha, e foi aí que fiquei surpreso. Abaixo uma simulação de como mais ou menos foi escrito a carta.

Itabaiana, xx de dezembro de 1983.
Querida Cumadre XXXXXX.
Cumadre a viagem foi demorada e cheguei aqui na segunda feira de noite.
Cumadre todos aqui estão bem de saúde e até o tio Tonho melhorou da febre mas continua gripado.
Cumadre ...
Cumadre ...
Cumadre...

Depois de ver a carta e conversar com minha mãe, descobri que todas as cartas eram escritas dessa maneira e a comunicação feita de maneira satisfatória. A parte ruim é que a amiga de minha mãe saiu espalhando em toda vizinhança que eu não sabia escrever cartas !

Depois desta carta, eu sempre falo para os doutores, da nossa gloriosa Língua Portuguesa, que a grande maioria da população não se interessa em se aprofundar nas regras, quase padronizadas, desse glorioso idioma, por que o único interesse que eles tem é saber o suficiente para se comunicar e que eles pouco se importam em desrespeitar regras gramaticais.

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