Quando se passava no vestibular da década de 70 ou 80 do século passado (século XX) era uma verdadeira festa. Os aprovados tinham as cabeças raspadas (às vezes os amigos e parentes providenciavam o corte do cabelo mesmo contra a vontade do aprovado). Muitos faziam festas comemorando o acontecido. Claro que só os mais abastados davam festas para comemorar tal acontecimento, até por que a aprovação dos menos abastados era acontecimento muito raro, mas que sempre aconteciam.
A relação dos alunos aprovados no vestibular, natural de Itabaiana, era divulgada nas rádios e era motivo de orgulho da população local. Chamava à atenção a quantidade de pessoas aprovadas no vestibular proveniente de uma cidade pequena! É sempre bom lembrar que eram mencionados somente os nascidos na cidade de Itabaiana, por que se fossem relacionados os aprovados no vestibular dos estudantes oriundos do Colégio Estadual Murilo Braga a quantidade de aprovados eram bem maiores. Isso ocorria pelo fato do CEMB ter uma clientela proveniente não somente de Itabaiana e atendia a todas as cidades vizinhas ao município.
Justamente na década de 70, do século XX, foi retirado a figura do Concurso da Admissão para ingressar no chamado Curso Ginasial, alias, foi retirado a admissão e o Curso Ginasial juntamente com o Curso Primário passam a se chamar Primeiro Grau e Posteriormente Ensino Básico. Por causa dessas mudanças, todas as pessoas passaram a ter acesso o livre as Escolas Públicas sem distinção de classe social, credo e cor. Como resultado, as pessoas, das chamadas Classe média, passaram a colocarem os filhos para estudarem nas chamadas Escolas Particulares.
Desde que estudava o Ginasial, eu sempre sonhava em ser professor de Geografia e, por ocasião da finalização do segundo grau, fiz o vestibular para o Curso de Licenciatura Plena-Geografia. Não fui aprovado na primeira tentativa, afinal de contas para um aluno que estudou o segundo grau noturno, em um curso profissionalizante (Técnico em Contabilidade), era notório o despreparo para enfrentar a maratona do concurso vestibular. Mas eram comum aos estudantes do segundo grau, turno da tarde, do Cientifico e Acadêmico (posteriormente passou a ser chamado de Ensino Médio e atualmente é chamado de Segundo Grau) serem aprovados, no vestibular, na primeira tentativa. Nesta época os estudantes das escolas públicas garantiam a grande maioria das vagas na universidade.
Neste mesmo período, eu e minha mãe trabalhávamos vendendo roupas nas feiras de Itabaiana, nas feiras das cidades próximas (Carira e Areia Branca) e não preciso dizer que era apenas um meio de sobrevivência. Vendíamos em quatro feiras e por ocasião do início das aulas, na universidade, passei a vender em apenas duas feiras semanais (no sábado em Itabaiana e aos domingos em Areia Branca) e consequentemente passei a ter menos dinheiro no bolso.
Na universidade estranhei o fato de encontrar muitos conterrâneos! Somente na minha turma (Curso de Licenciatura Plena - Geografia), primeiro período, eu encontrei 16 conhecidos. O que mais me chamou a atenção não foi o número de conterrâneos existentes e sim o questionamento por parte desses mesmos conterrâneos: o que você está fazendo aqui? Escutei essa pergunta por uma centena de vezes durante os dois primeiros semestres que estudei na Universidade (UFS).
Com a criação das cotas, para negros e para alunos oriundos das chamadas Escolas Públicas, certamente o número de estudantes oriundos das classes sociais economicamente menos abastadas se tornaram bem maiores. Será que os que não entraram pelas cotas estão a repetir a infeliz pergunta: o que vocês estão fazendo aqui?
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