terça-feira, 22 de novembro de 2016

CENTENÁRIO DE EUCLIDES PAES MENDONÇA (Parte dois).



Antonio Samarone de Santana

Foi na conjuntura (apontada na parte um do texto), na transição entre o predomínio da atividade agrícola para o crescimento do comércio e do transporte, favorecidos pela chegada da estrade de rodagem, a BR-235, que Itabaiana ganhou um grande impulso de desenvolvimento. Aqueles homens treinados nos pequenos negócios nas feiras do Estado, com o corpo no campo numa produção camponesa e espírito voando para o mercantilismo. Gente simples, sempre poupando, levando vida franciscana, de pequenos gastos, poucos luxos, muito trabalho e muita avareza. O dinheiro era tudo, ganhar, investir e ganhar, o esquema clássico do capitalismo.
Euclides Paes Mendonça chegou a Itabaiana disposto a ganhar dinheiro, descobriu rápido que com o fim do Estado Novo, a política ia abrir espaços pelo voto, para quem tivesse ambição. O eleitor passou a valer alguma coisa e precisava ser conquistado, com mimos e afagos, ou com ameaças e retaliações. O chefe político não era mais o coronel da República Velha, um latifundiário com os seus vassalos e capangas, o voto precisava ser conquistado. O eleitor precisava mais que o cabresto para ser domado, além da proteção, precisava de outras regalias. O cumprimento, o aperto de mão e até do abraço, em época de eleição. 
Euclides percebeu os novos tempos, bom comerciante, impetuoso, tendo prosperado na padaria, resolveu ampliar os seus negócios. Em 1944, comprou uma casa velha no Largo da Feira e construiu um grande armazém de secos e molhados, o precursor dos atuais supermercados. O estabelecimento prosperou e logo-logo se tornou o maior da cidade, em competição direta com o Armazém de Manoel Teles, mais antigo, e situado no mesmo logradouro.
Euclides Paes Mendonça, diante da necessidade de expansão dos negócios e do enriquecimento constatou que sem o contrabando, a velocidade de crescimento não seria a mesma. Não era difícil identificar que possuir força, poder, capacidade de ameaçar e do exercer a violência, era de grande utilidade, nesta fase de acumulação primitiva de um mercantilismo nascente. Era preciso controlar a exatoria (o fisco) e a polícia, e se possível, a justiça e a igreja, mas isso se veria depois. Estava clara a necessidade de envolvimento com a política. 
Dos irmãos Mendonça, apenas Mamede Paes Mendonça não se envolveu diretamente com a política; Pedro Paes Mendonça foi Deputado Estadual e Prefeito de Moita Bonita. Gentil Barbosa, sobrinho de Sinhá Barbosa (esposa de Euclides), assumiu os armazéns de Euclides após a sua morte precoce (1963) e fundou o G. Barbosa, a maior rede de supermercado de Sergipe; em sociedade com o seu irmão, Noel Barbosa. Com a morte trágica de Euclides e inicio da ditadura em 1964, os irmãos Barbosa não se envolveram diretamente com a política. Albino Silva da Fonseca e Oviedo Teixeira, outro empresários de Itabaiana esse período, saíram da cidade, cresceram em Aracaju, estavam envolvidos até os cabelos com a política, cada um ao seu modo.
Em Itabaiana, só ficou Euclides Paes Mendonça, dos empresários bem sucedidos. Euclides chamou a atenção pelo o seu caráter expansivo e provocador, ousado, temperamental, sangue quente, que falava mais do que fazia, sensível às fofocas e os fuxicos da política. Euclides entrou na política visitando os eleitores de casa em casa, oferecendo vantagens para quem aderisse ao seu comando, ameaçando os resistentes, fazendo festas (leilões, micaremes e bailes), comprando votos e apoios, bagunçando a forma antiga de se fazer política em Itabaiana. Foi um furacão.
Na política, depois da atritada era dos pebas e cabaús, o Coronel Sebrão versus Itajay, da República Velha, Itabaiana passou pela ditadura do Estado Novo, com um recrudescimento da politicagem local. Sílvio Teixeira governou a cidade de 1935 a 1941 e Manoel Teles, de 1941 a 1946. Após a redemocratização de 1945, constituíram-se dois grupos fortes na política, de um lado o PSD, ligado aos proprietários rurais, liderado por Manoel Teles, Jason Correia e Toinho do Bar; e do outro a UDN, mais vinculado aos comerciantes, tendo a frente Otoniel Dórea, Esperidião Noronha e Boanerges Pinheiro.
Euclides entrou no grupo da UDN, começou quando o velho mundo pebas/cabaús tinha desmoronado, após o longo período de ditadura do Estado Novo. Quando Walter do Prado Franco, usineiro da cotinguiba, começou a organizar a UDN na redemocratização de pós 1945, teve dificuldades de encontrar uma liderança forte em Itabaiana. Euclides ocupou esse espaço. Manoel Teles, o interventor, figura entranhada no poder durante todo período ditatorial, chegando depois a ligações familiares, ficou com o PSD de Leite Neto. Manoel Teles era um homem contido, de pouca conversa, ciosos da sua condição de rico e chefe político. Não fazia gracinha para eleitor.

Texto original: EM DEFESA DAS CAUSA PERDIDAS

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