segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Os cebolas e os passeios de caminhão

Modelo de caminhão que
era frequentemente usado
No final da década de 70 e início da década de 80 (século XX) surgiu a moda de se ir a praia de caminhão (não confundir com transporte pau-de-arara). Nesta mesma época era comum a torcida do Tricolor da Serra (Associação Olímpica de Itabaiana) ir aos jogos na capital (Aracaju - SE) utilizando as carretas (Scanias) da Transportadora Sergipana. Durante muito tempo presenciei e participei dessas viagens as praias e também os jogos do tricolor.

Neta época, as Polícias Rodoviárias Federal e Estadual toleravam o transporte de pessoas nas carrocerias dos caminhões, contanto que as pessoas permanecessem sentadas durante a viagem. Durante o percurso as pessoas realmente permaneciam sentadas, mas quando adrentavam em áreas urbanas as pessoas, que vinham sentadas próximos as carrocerias, costumavam ficar em pé e segurando na parte alta que fica logo atrás da cabine (boleia).


A primeira viagem


A primeira dessas viagens que fiz foi para a praia do Abais (Estância- SE). Combinei com os colegas do CEMB (Colégio Estadual Murilo Braga) e no domingo há sete horas estava em frente ao Colégio Guilhermino Bezerra. Nesta época, a estrada que ligava a BR-101 a praia de Abais era de “barro batido”. Ainda hoje existe uma ponte no chamado Rio Fundo, só que naquela época a ponte era de madeira! Na viagem de ida os carros passaram
pela ponte normalmente e não houve pânico entre os viajantes. O problema é que o volume de carros trafegando neste dia foi uma coisa fora do normal e na volta à ponte balançava quando passava mais de um carro ou mesmo um carro de grande porte (ônibus ou caminhão).

Para evitar acidentes, os motoristas pararam e resolveram que deveriam passar um carro de cada vez e os de grande porte deveriam passar sem os passageiros. Quando chegou nossa vez, o carro se locomovendo na ponte e os passageiros seguindo a pé!. Quando chegou a terra firme, os passageiros correram e subiram para continuar viagem. Só que alguns se atrasaram (eu fui um deles) e um engraçado, que já estava em cima do transporte, gritou: vamos embora? O motorista obedeceu!!! Eu fui o primeiro a sair correndo, de braços abertos e gritando, mas o motorista percebeu, deu de ré até onde estávamos, parou o carro, subiu na carroceria e gritou bastante irritado: quem foi o “muleque” que gritou que já podia ir? Silêncio total… Não precisa dizer que nunca mais fui a um passeio com a mesma turma.

Inauguração da Escola Estadual Guilhermino Bezerra 

Aparência atual da Escola Estadual Guilhermino Bezerra


Torcendo pelo Tremendão da serra


Também íamos de caminhão torcer, pelo Tremendão da Serra, nos diversos jogos que ocorriam em várias cidades, mas a grande maioria eram realizados em Aracaju. Mesmo nesta época já ocorriam brigas entre as torcidas e sempre apareciam aqueles exaltados que faziam besteiras. Em um desses jogos quadrangulares (dois jogos) a torcida do Sergipe cercou os ceboleiros, na saída lateral do Batistão (Estádio Lourival Batista), jogando pedras. Coincidentemente, junto a carreta, pertencente Transportadora Sergipana (tem o nome de sergipana, mas transportava a torcida do Itabaiana), estava espalhado, pelas nas proximidades, restos de construção e tinha vários pedaços de mármores. Foi o suficiente para se travar um guerra de pedras. Eu estava tocando na charanga e fiquei agachado dentro da carroceria com o tarol sobre a cabeça.

Saímos do meio desta guerra indo em direção a Avenida Barão de Maruim e paramos no cruzamento, com Rua Itabaiana, para subida dos que em vez de irem assistir ao jogo aproveitaram para conhecer e passear por Aracaju. Neste mesmo momento ia passando um sujeito, em uma bicicleta de corrida, com camisa do confiança, apontou para a torcida e saiu gritando: olha a turma de tabaréu, deve ser tudo “viado” do interior! O problema é que logo depois a carreta também começou a andar e acompanhou o infeliz torcedor do confiança! O pessoal resolveu revidar a agressão verbal jogando pedaços de mármores e soltaram vários rojões. O sujeito caiu no chão sangrando, no cruzamento da Barão de Maruim com Avenida Canal (bem próximo a Praça da Bandeira), logo depois se levantou (felizmente) e xingando a todos de corno e “viado” !


Passeio na Praia de Atalaia


Entre as várias viagens para a praia de Atalaia (Aracaju - SE), em uma ocorreu um fato interessante. Durante a viagem de ida e no decorrer do dia a diversão ocorreu tudo bem, mas o fato interessante ocorreu na volta. O caminhão não estava muito cheio, com metade da carroceria vazia e tinha algumas passageiros que moravam no Povoado Rio das Pedras. Nesta época, tinha um sujeito (ex-caminhoneiro) que era conhecido por George Doido que costumava andar para tudo que é povoado a pé e sempre que podia conseguia uma carona. A dificuldade dele conseguir carona era que o mesmo não costumava tomar banho! Quando da chegada ao povoado para a descida dos passageiros moradores do local, o George ia passando e os passageiros que iam continuar viagem passaram a gritar para o motorista “arrastar o carro”, mas a gritaria foi em vão, o George Doido conseguiu subir a tempo para a carona. A gritaria era que o George estava todo cagado e tivemos que agüentar a fedentina, embora todos rindo da situação, até o final da viagem!


As viagens de pau-de-arara


Não eram comuns passeios com a utilização de pau-de-arara, pois o mesmo fazia o transporte coletivo entre os povoados e municípios. Era o transporte mais utilizado por feirantes (vendedores e compradores) e como as principais feiras ocorriam (e ainda ocorrem) nos finais de semanas, era muito raro a realização de passeios com o mesmo e somente em algum eventual feriado que não fossem no final de semana é que se realizava algum passeio. Na foto, ao lado esquerdo, tirada na década de 40 (século XX) podemos ver o tradicional pau-de-arara (foto cedida pela escritora Maria do Carmo Costa).

Credito das fotos: retiradas no Grupo Itabaiana Grande no Facebook.

2 comentários:

  1. Muito boa a sua abordagem desse assunto,Antonio Carlos. Dá-nos a verdadeira dimensão do que vivemos na década de 70, jovens adolescentes de Itabaiana ou ceboleiros. As carretas eram da Transportadora Sergipana Ltda de propriedade do saudoso ganduense Wilson de Almeida Santana. Você lembra das oméricas carreatas com a equipe do Tremendão sendo ovacionada pelos torcedores pela conquista de algum título? Eu conto essa passagem no meu livro Para Sempre Itabaiana. Já visitei o seu blog algumas vezes e gosto dos "seus Escritos", mesmo que as vezes discorde deles em algum ponto, mas faz parte,você é um grande divulgador da cultura do itabaianense.

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    1. Obrigado pela visita e também em colocar o assunto em dia. Não lembrava mais o nome do proprietário da Transportadora Sergipana, embora ele sempre aparecia nos dias dos jogos e presenciei ele a conversar com o Salomão várias vezes.

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