sexta-feira, 17 de abril de 2015

Os Abandonos das Escolas Públicas


Escola Mun. Sebrão Sobrinho
Povoado Mundo Novo
 Itabaiana - Sergipe
Sempre estamos acostumados ouvir falar do abandono das Escolas Públicas pelo Poder Público. Analisando as críticas parei para observar e notei que não existe uma estatística de quantas escolas existem abandonadas (se existem não são divulgadas) e os motivos por que tais fatos ocorrem. E o mais interessante é que este abandono nem sempre parte do poder público, existe uma parcela de colaboração e cumplicidade dos moradores e usuários destas escolas. 

Como eram as Escolas Públicas

O que vou descriminar aqui é a minha experiência de vida, ocorrida no Estado de Sergipe e não uma pesquisa científica efetuada para tal.

Na década de sessenta as escolas, principalmente da Zona Rural, eram geralmente escolas com duas salas de aula e que normalmente só funcionava uma sala de aula. Era raro o funcionamento destas escolas com duas salas de aulas
 Já nas áreas urbanas, as escolas já tinham uma estrutura semelhante ao que conhecemos hoje, tinham várias salas de aulas, diretoria e geralmente mais de um professor/a.  A distribuição dos alunos nas escolas urbanas eram feitas por séries, idade e sexo. Já nas escolas Rurais não existiam essa distribuição, até por que os alunos ficavam todos em uma única sala e com uma única professora. 

 Uma particularidade da época era como os professores eram contratados (ainda não existia a figura do Concurso Público). Os professores eram contratados
por convite ou indicação política e não existam aquela obrigação de se contratar professores formados em Licenciaturas especificas de cada área. Era comum se chamar um engenheiro na cidade para ser professor de matemática, um advogado para ser professor de Português, etc. Nas escolas rurais os professores eram pessoas que moravam próximas as escolas e que possuíam pelo menos o primário. Quando não existia alguém na comunidade, em condições de ser professor, era comum se contratar alguém na cidade mais próxima e era levada de carro, todos os dias letivos, até essas escolas. 

 Nesta época, as escolas classificam os alunos nos seguintes graus de estudo: primário , ginasial, cientifico ou acadêmico e ensino superior (Universidade). 

Para o aluno sair do primário e ir para o Ginasial era necessário se fazer o “Concurso de Admissão” (que hoje já não exite mais) e para o aluno entrar na universidade era necessário prestar o “Concurso do Vestibular (que existe até os dias de hoje)".Tanto o Concurso de Admissão e o Concurso do Vestibular era uma avaliação feita em uma prova escrita com todo o conteúdo do dos anos estudos nas séries anteriores. 

Extinção do Concurso de Admissão nas Escolas Públicas

Um dos marcos que trouxe uma mudança radical, em relação a importância das Escolas Públicas, foi a extinção do chamado "Concurso de Admissão". Depois que os alunos, do chamado “Ensino primário”, não precisaram mais prestar o Concurso de Admissão para ingressar no Ensino Ginasial, passou a ocorrer um fato interessante, a classe média começou a retirar seus filhos das Escolas Públicas (que até então eram tidas como as melhores) e passaram a colocarem, os filhos,  nas Escolas Particulares. Isso fez com que de uma certa maneira os administradores públicos perdessem o interesse de valorizar as escolas públicas. Não se esqueçam que os alunos de classe médias que estudavam nas escolas públicas eram filhos destes mesmos administradores. 

Nesta observação, notei que essas escolas são abandonadas seguindo padrões em várias localidades. Neste padrões é fácil notar a influência de ganho ou perda de poder econômico da população que provoca movimentos populacionais e algumas mudança de hábitos. 

Os tipos de abandonos

Geralmente as escolas são abandonadas ou mantidas de maneira deficiente por descaso dos chamados Administradores Públicos, mas existem muitos casos que os abandonos ocorrem por perda de importância das escolas nas localidades em que estão inseridas. Com o decorrer do tempo, as populações localizadas em torno destas escolas perdem ou ganham poder econômico e quando não, as localidades onde estão inseridas, estas populações, mudam o status em relação as localidades mais próximas (esse fato ocorre mais nas áreas urbanas). 

Perda de importância da escola naquela localidade.
Desde a década de 1970, as áreas Rurais estão perdendo contingentes populacionais que estão se deslocando para viverem nas cidades (Êxodo Rural), geralmente a procura de melhores serviços de saúde, educação e também a procura de trabalho. Essa movimentação faz diminuir a quantidade de matriculas ou mesmo inexistirem a presença de crianças, na Área Rural,  na idade escolar. Com a grande diminuição nas matriculas, nestas escolas, fica menos dispendioso transportar estas crianças para a sede do município com o uso do chamado transporte escolar. 

Nas cidades é comum os bairros mais antigos serem ocupados por atividades comerciais e prestação de serviços. Os moradores desses antigos bairros residenciais, geralmente vendem seus imóveis a empresas e procuram ir residir em outros bairros. Isso faz com que a perda e inexistência das matriculas ocorram em muitas escolas localizadas neste bairros. Neste caso há uma perda de matriculas das escolas localizadas nos bairros próximos aos centros comerciais e aumento de matriculas nos bairros mais periféricos, ou seja, ocorre um deslocamentos de matriculas na Rede Pública. 

Mudança de poder aquisitivo da população

Depois que eliminaram a Prova de Admissão, a classe média passou a valorizar mais as Escolas Particulares e muitas escolas localizadas em bairros onde grande parte da população melhorou o poder aquisitivo, houve uma grande perda de matrículas. Isso vem ocorrendo muitos nestes conjuntos habitacionais construídos pelo governo. Nos últimos dez anos, em muitos desses bairros houve uma melhoria salarial e essa nova classe média absorveu os valores culturais da classe média já existente, ou seja, a valorização das escolas particulares em detrimento das escolas públicas. Muitas destas escolas, localizadas nestes conjuntos habitacionais, estão sendo utilizadas por alunos de bairros periféricos vizinhos. O correto seria a construção das escolas nos bairros periféricos para evitar o trasporte e movimentação dessa grande massa de alunos, só que o governo por questões de economia, na construção de novas escolas, prefere gastar com transporte! 

As escolas totalmente abandonadas 


EM. Agostinho j. Caetano
Povoado Taperinha
Itabaiana - Sergipe
Muitas destas escolas sofrem um grande processo de mudança estrutural na ofertas de cursos, tem o objetivo de sua existência mudando, passando a se tornar escolas de Ensino profissionalizante ou mesmo são transformadas em Centros (ou escolas) de Excelências com regime integral. Mas, as escolas totalmente abandonadas (ocorrem mais nas Zonas Rurais) são geralmente depredadas pela população local, quando se deveria dar um novo destino ao Patrimônio Público. Muitas dessas escolas poderiam ser transformadas em postos de saúde ou mesmo centros comunitários, principalmente as localizadas nas Zonas Rurais (os chamados povoados).

Texto: Antônio Carlos Vieira - Professor de Geografia
Fotos de Abércio Filho - Professor de História

Texto publicado na : Gazeta Valeparaibana

Textos publicado originalmente: DEBATENDO A EDUCAÇÃO

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