sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Os Cebolas, Os Tanques e as Lagoas VII

As lagoas escondidas

É muito comum deixarmos passar despercebidos detalhes dos locais onde moramos e um desses detalhes despercebidos eram quatro lagoas existentes próximo onde morava na Rua Hunaldo Cardoso (hoje se chama Rua Zeca Mesquita).

Quando fui morar na Rua do Ouvidor (Rua Monsenhor Constantino) tinha seis anos de idade e quando minha mãe ia vender na feira me deixava aos cuidados da família de seu Armilindo. Ele tinha uma “budega” na esquina com o Beco Novo e a residia na parte dos fundos da casa.

Em uma dessas ocasiões choveu durante toda a manhã. No fundo da residência existia um bueiro e neste dia passava uma água forte e constante. Eu, juntamente com alguns garotos conseguimos um jereré e ficamos pescando neste bueiro. Chegamos a pegar algumas piabas, foi quando o controle familiar chegou com medo que fossemos arrastados pela água.

Alguns dias depois, como toda criança curiosa, pequei uma cadeira e subir por cima do muro para ver de onde vinha à água que passava pelo bueiro. Uma lagoa na parte do fundo do terreno, pertencente a Seu Zeca, no lado esquerdo olhando do beco. Hoje essa lagoa não existe mais e por incrível que pareça, o terreno continua sem construções depois de mais de quarenta anos.

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Existia uma lagoa no canto do terreno na parte dos fundos. Na época na existia a casa com a antena parabólica, somente a casa da esquina. Quando chovia a água  se espalhava por todo o terreno

Depois de algum tempo mudei de residência e fui morar em outra casa, na mesma rua, também pertencente ao Seu Zeca. E nessa nova residência, os moradores da rua costumavam se reunir, na porta da rua, durante a noite. E tome jogar conversa fora. Foi que um dia a vizinha da antiga moradia (Maria Loira) chega nas carreiras pedindo socorro: pela amor de Deus, tem alguém no meu quintal dentro do galinheiro e está roubando minhas galinhas! O pessoal ainda questionou: e o seu marido? - Foi que ela informou que estava trabalhando (era funcionário da antiga ENERGIPE).

Lá se vão os heróis da rua. Seu Russo com uma lanterna e uma espingarda, na frente acompanhado de vários outros vizinhos. O problema é que a molecada também acompanhou e o barulho para se tentar conseguir controlar os garotos acabou alertando o ladrão. Quando chegamos na parte do galinheiro (a casa tinha dois quintais), percebemos que o ladrão soltou o saco cheio de galinhas as margens de uma lagoa! Foi aí que fiquei sabendo que nos fundos da antiga moradia existia uma lagoa enorme e poluída.

Essas duas lagoas não tinham lixo, mas a água era escura de tanto se jogar águas dos esgotos. Deixar claro que, nesta época, não eram jogados dejetos humanos nos esgotos, portanto as águas das lagoas não soltavam aquele mal cheiro característico das fezes. As casas tinham fossas individuais para os dejetos. Quando essas lagoas sangravam, as águas atravessavam as ruas do Ouvidor (Rua Monsenhor Constantino) e Rua Padre Felismino e entrava no terreno de Sr. Bebé, que depois atravessava, por um bueiro, a Rua Miguel Teixeira e seguia em direção ao Açude Velho.

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As duas casas com grades era uma única residência (morei nelas de aluguel). A casa azul era a garagem e a casa vizinha, a casa azul (lado direito) morava um senhor que trabalhava na ENERGIPE (atual Energisa). Aos fundos tinha uma lagoa que fiquei sabendo da existência depois de ter se mudado da casa com as grades
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Dois anos depois, fui morar na Rua Dr. Hunaldo Cardoso, casa de esquina, com Rua Monsenhor Constantino. Em frente a esquina frente onde eu morava tinha uma casa (pertencente ao Tenente Baltazar) que nos fundos era um pequeno sítio. Coincidentemente nos fundos desta casa tinha uma lagoa. Depois de dois anos morando nesta casa, sair e fui morar em uma outra casa, na mesma rua, recentemente construída no terreno do sítio que ficava na casa da esquina. O pequeno sítio tinha outra lagoa bem no fundo desta casa, ou seja, o pequeno terreno da casa da esquina tinha duas lagoas, mas somente as pessoas que já tinham entrado no terreno sabiam da existência delas!

Quando marava na casa da esquina era justamente a década de 70 do século passado (século XX) ocorreu um período de seca fortíssima. O Tenente Baltasar costumava criar alguns patos nestas lagoas e por ocasião desta seca, eles simplesmente desapareceram! Só que as secas não são eternas, o inverno voltou, as lagoas transbordaram e os patos também reapareceram. Durante um dia de chuva fina pela manhã, o tempo continuou nublado durante a tarde e com temperaturas baixas. Foi o dia em que os patos resolveram voltar, só que os patos que foram embora eram em número de no máximo de 20, mas na volta eram dezenas deles! Eles foram chegando e pousando nas mangueiras e cajueiros do sítio. Quando as mangueiras e cajueiros ficaram totalmente ocupadas, eles passaram a pousar no muro que separava a casa da rua. Resultado, o muro não suportou o peso dos patos e tombou! 

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Nesta casa da esquina existia uma lagoa e na parte direita da casa, pelos fundos, era um muro que separa o pequeno sítio da rua. Bem em frente, onde fica a garagem, existia um pé de mandacarú com uns dez metros de altura!!! Até hoje não encontrei um pé de mandacarú tão alto!

O terreno do Tenente Baltazar tinha outra lagoa e essa realmente era totalmente desconhecida dos moradores das redondezas, mesmo para quem entrava no terreno. Essa lagoa era totalmente cercada por garranchos de juremeiras e de água bastante limpa. Fiquei sabendo da existência por ocasião de uma pescaria. Pesquei uma traíra bastante grande (quase um quilo), na lagoa do Sítio da Família Barbosa (ficava em frente a casa do Seu Zeca Mesquita). Sair orgulhoso pela rua mostrando o troféu. Chegando em casa coloquei a traíra no chão do pátio de minha casa e fui pegar o limão para limpar o peixe. Só que na volta, cadê a traíra? O gato levou. Lá se ia o gato puxando a traíra por debaixo das juremeiras, já estava do outro lado da cerca do quintal, no terreno do Tenente Baltazar. Pulei a cerca e entrei por debaixo das juremeiras e dei de cara com a água da lagoa. E o gato com a traíra? Foi lentamente levando o meu troféu por debaixo das juremeiras!!!!

Bem ao fundo das casas azul e vermelha existia uma lagoa e essa realmente era escondida dos moradores das redondezas. Quando falava da existência dela era taxado de mentiroso!

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