domingo, 29 de junho de 2014

Os Cebolas, os Tanques e as lagoas II

O Açude Novo


Quando garoto, só existiam dois açudes públicos na cidade de Itabaiana - SE. Em decorrência, as pessoas se reportavam como Açude Velho e Açude Novo. Claro que é uma nominação mais fácil do que se chamar pelo nome. Alias, até hoje nunca soube o nome verdadeiro do Açude Velho!

O Açude Novo tem oficialmente o nome de Açude da Macela. No local, onde foi construído a represa (nos chamávamos Barragem), era comum a existência de uma planta com o mesmo nome.

Foto tirada neste século (Juares Gois). Mas olhando, desta perspectiva,
 não  se nota a diferença em comparação com tempos passados!
Lembro até hoje a primeira vez que fui ao Açude Novo. Meu pai gostava de vez em quando fazer uma pescaria e nesse dia sem mais nem menos me levou junto. Fez uma vara de pescar para eu ficar pegando piabas! O açude estava cheio e a água ainda não era tão poluída. Neta época ainda não existia as famosas tilápias. Os peixes comuns eram: jundiá, piabas, corrós e o preferido para captura eram as Traíras.


Embora a água ainda não estivesse com a poluição muito alta, era comum em alguns locais se perceber que a quantidade de material orgânico já era alto. Toda poluição vinha dos dois riachos (se é que podíamos chamar de riachos) que desaguam no açude.

Um dos riachos, que vinha da área urbana, desaguava, no açude, entre a propriedade do Sr. Corró e do Sr. Arthur. Esse riacho foi o principal responsável, juntamente com os agrotóxicos usados na agricultura local, pelo início da poluição química das águas. Além de receber os esgotos residenciais, nesta época ainda era composto na maioria de material orgânico, recebia também os esgotos das oficinas automotivas, lava jatos e postos de combustíveis que eram os responsáveis por lançarem o material químico. Nesta época, esse riacho, em seu percurso, passava pelo famoso Tanque do Povo (não existe mais) que foi a primeira vítima da poluição química.

Um segundo riacho passava por debaixo do que chamávamos Ponte do Açude Novo (não sei se existe um nome oficial). Essa ponte era feita de madeira, por ela passava uma estrada que levava até o Povoado Várzea do Gamo e podia se chegar até a Cidade de Ribeirópolis. Esse riacho também poluía as água, mas era uma poluição totalmente orgânica e o material era proveniente do sangue dos bois sacrificados no antigo matadouro (hoje não existe mais). Essa poluição era menos grave por que o material orgânico servia de alimento para algumas espécies de peixes. 
Inauguração do antigo matadouro. No início foi o maior responsável pela
poluição orgânica do açude da Macela (Açude Novo).  Tofo o sangue que
saia dos bois abatidos ia em direção de um riacho próximo.  O riacho depois
 de percorrer um pequeno trecho, desaguava no Açude Novo.
Com o passar dos anos, a área urbana da cidade de Itabaiana foi crescendo em direção à região do açude. Mas a parte que mais prejudicou o açude é a área urbana que cresceu em direção à região do antigo matadouro. A urbanização desta área fez dobrar a poluição química das águas dos açudes. Paralelo, ao crescimento urbano, cresceram o número de oficinas, postos de gasolinas e lava jatos que multiplicaram poluição química.

Com o passar do tempo, os técnicos do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), órgão responsável pela administração do açude, colocaram algumas espécies de peixes nativas de outras regiões. Entre as espécies de peixes colocadas foram as Tilápias. Esses peixes, juntamente com os já existentes, se alimentam do material orgânico e a ideia era fazer com que eles limpem as águas. Só que os peixes não estão conseguindo realizar essa tarefa devido serem despejados grande quantidade de esgotos da cidade dentro do açude!


Locais de pesca


Os locais bons de pescaria eram onde esses dois riachos desaguavam. Esses locais atraiam os cardumes de peixes devido a concentração do material orgânico lançados pelas águas dos dois riachos. Só que cada local tinha suas características: na área onde ficava a propriedade do Sr. Corró eram comuns se pegar muitos Corrós (o apelido do proprietário era o nome do peixe!), traíras e as águas se apresentavam mais escura. Junto a ponte se pescava muito corrós e jundiás (eram os peixes que mais gostava de pescar) e nesta parte as águas eram mais claras. NO lado onde ficava a propriedade do Sr. Artur era onde se conseguia pegar algumas traíras usando linhas de fundo. Isso quando so guardas do DNOCS não confiscavam as linhas!
Esse tipo de vegetação só é comum em águas com alta poluição orgânica..
A vegetação em destaque era utilizada e como artefato de pesca. Era comum
os peixes ficarem presos nas folhagens. Mas a pesca comum era com anzóis.

Como é hoje

Atualmente a represa está praticamente cercada pela Área Urbana da Cidade de Itabaiana e se tornou um grande depósito de esgotos. Para piorar a situação, além do aumento da quantidade de detritos, tem o inconveniente que os atuais esgotos domésticos também são compostos com grandes quantidades de material químico. Junte esgoto doméstico, esgoto de oficinas, postos de gasolinas, a poluição provocada pelos agrotóxicos e terá uma idéia do que é hoje a água do Açude Novo!

Não existe tratamento para os esgotos da cidade de Itabaiana e grande
parte deles são jogados in natura dentro do açude. 
O surgimento de gaivotas

Uma coisa inexistente no passado era a presença de gaivotas. Hoje uma grande quantidade de gaivotas se alimenta dos pequenos peixes e insetos, apesar da poluição, e fazem seus ninhos nas árvores próximas. As revoadas dessas gaivotas trazem uma beleza que não existia antigamente!

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br



Nenhum comentário:

Postar um comentário