segunda-feira, 28 de abril de 2014

O que você está fazendo aqui?

Quando se passava no vestibular da década de 70 ou 80 do século passado (século XX) era uma verdadeira festa. Os aprovados tinham as cabeças raspadas (às vezes os amigos e parentes providenciavam o corte do cabelo mesmo contra a vontade do aprovado). Muitos faziam festas comemorando o acontecido. Claro que só os mais abastados davam festas para comemorar tal acontecimento, até por que a aprovação dos menos abastados era acontecimento muito raro, mas que sempre aconteciam.

A relação dos alunos aprovados no vestibular, natural de Itabaiana, era divulgada nas rádios e era motivo de orgulho da população local. Chamava à atenção a quantidade de pessoas aprovadas no vestibular proveniente de uma cidade pequena! É sempre bom lembrar que eram mencionados somente os nascidos na cidade de Itabaiana, por que se fossem relacionados os aprovados no vestibular dos estudantes oriundos do Colégio Estadual Murilo Braga a quantidade de aprovados eram bem maiores. Isso ocorria pelo fato do CEMB ter uma clientela proveniente não somente de Itabaiana e atendia a todas as cidades vizinhas ao município.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Lá só mora puta e viado!

Tem certas situações da vida que a pessoa só consegue ficar entendendo com o passar do tempo. No linguajar popular: quando a velhice vai chegando.

Quando criança, eu morava no que se chamava “Final de rua”. Era uma rua que tinha casa de um lado e do outro era sítios. A cidade era pequena (Itabaiana-SE, década de 70 do século XX). Desde o meu nascimento sempre morei nas proximidades do chamado Beco Novo (Rua Coronel Sebrão) e até a adolescência morava em casas alugadas.

Desde criança notava que as pessoas tentavam se engrandecer denegrindo a imagem dos outros. Sempre se tentava desqualificar ou denegrir, o semelhante, na tentativa de intimidar ou mesmo de se sentir grande. Isso era comum entre criança, adolescentes, adultos e era absorvido por todos (inclusive eu) como uma coisa normal. Para tentar desmoralizar o semelhante eram observados aspectos físicos, morais, classe social, local de moradia, etc. Acredito que em todas as sociedades existam esses procedimentos, mas existem lugares que são mais generalizados.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

OS BURROS INTELIGENTES DE ITABAIANA GRANDE (CRÔNICA)

Publicada no Facebook, no grupo Itabaiana Grande,em 07/03/2012

Por Maria do Carmo Costa

Hoje por um momento, na hora do almoço, me veio à lembrança, na visão de quando eu era criança e tinha oito ou nove anos de idade. Comentando à mesa que a carne estava gostosa, eu, minha filha Talita, e Pedro meu marido.
Eu então disse: "Não é nenhuma carne de Itabaiana (dando uma grande ênfase no tom de voz),mas tá gostosa sim.
E lembrei-me, e comentei com a minha filha, que ficou impressionada com o que lhe falei. Eu falei para ela, da visão que para mim era espetacular, que eu tinha todas as sextas-feiras à noite, quando eu ia à casa do meu avô , Zequinha das Sete Porta. A casa dele foi uma das primeiras a serem construidas na av. Otoniel Dórea. Era uma casa enorme, de esquina, ampla, com varanda, garagem, piso alto, imponente, tinha um jardim de papoulas amarelas e uma cisterna tão grande e funda que dava medo só de olhar. 

Até hoje eu fecho os olhos e memorizo essa casa todinha! Adorava passar os fins de semana lá. Nós íamos na sexta à noite e só voltávamos para casa no domingo à noite. Todo fim de semana era uma festa. Meu avô era seresteiro, tocava pistão num grupo e se apresentavam todas às sextas e sábados na varanda de casa. Era música a noite inteira. Era bom demais, as brincadeiras de criança com meus primos, brincar de esconde-esconde, cipozinho queimado, pula-pula, numa cama que tinha num quarto de visitas...

Essa casa fica do outro lado da rua, esquina com a que funciona hoje a FM Itabaiana, que na época era de D. Petrina mãe do político José Carlos Machado. Do lado esquerdo era nosso vizinho o Sr. José Martins. Descendo mais um pouco, morava o Sr.João Leite pai do José Hunald. Em frente, do outro lado da avenida moravam o Sr. Romeu fotógrafo pai de Reynolds e o Sr. Miguel Peixoto, pai do Dr. Airton Peixoto.

São lembranças de quase cinquenta anos, da minha infância, que hoje, durante o almoço,vieram à tona.
Era uma coisa que eu achava lindo!
Era da varanda desta casa, que eu via e me encantava, com aqueles burros inteligentes, que transportavam a carne de boi do matadouro municipal para o mercado, para ser vendida na feira do sábado
Vinham em fila indiana, com os lombos carregados de quartos de bois abatidos naquela mesma noite,há alguns minutos atrás!
Sem ninguém para tocá-los!
Vinham sozinhos! Fiquei sabendo hoje que quando chegavam ao mercado, os machantes sabiam de quem era a carne pelos nós das cordas, pela maneira como eles eram dados, ou por marcas ou sinais.Cada um tinha a sua marca diferente das outras.

Imaginem só vocês, jovens de hoje!
Nunca sumiu carne alguma!
Os burros passavam um a um, em passos lentos, se o da frente parasse, todos os outros que vinham atrás paravam.
E chegavam ao seu destino,com as cargas nos lombos!
Eu achava aquilo o máximo!
Aqueles burros inteligentes, descendo a av. Otoniel Dórea, até o mercado, carregados de fardos de carne de boi! Sozinhos! E voltavam para o matadouro depois que descarregavam suas cargas!
Sozinhos, na mesma fila indiana! E o que é mais incrível! Pelo outro lado da avenida, o que lhes dava mão para trafegar!

E eu esperava a próxima sexta-feira para vê-los passar novamente!
Agora imaginem isso hoje!
Será que eles chegariam ao seu destino, sãos e salvos?
E a carga será que chegaria completa?
Ou não chegaria coisa alguma ao mercado?

Se "perderiam" pelo caminho, no emaranhado de desonestidade, falta de caráter e roubalheira em que se transformou o mundo e os indivíduos.
Bons tempos aqueles vividos pela minha geração, onde os sentimentos que existiam eram amizade,confiança e respeito pelo que é do outro, e onde registro em cartório era tão somente a palavra empenhada.
Maria do Carmo Costa - 
Escreveu o livro - ALMA BRANCA

Este texto é replicado dp Blog da autora - MEUS ESCRITOS